28 March, 2006

Ilha de Bruma



Eu buscava uma ilha sobre o vento e a espuma
a que só era de ser a sempre ausente
ilha nenhuma.

Agora tenho-a à minha frente
ilha de bruma.

Buscava um lugar santo um canto um cântico
um triângulo mágico uma palavra um fim.
E vejo um grande pico sobre o atlântico
e uma ilha a nascer dentro de mim.

Manuel Alegre, In. Pico

27 March, 2006

"Diz-que-diz-que" ou "Leva-e-trás"

“Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; nem conspirarás contra o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele.”
(Lv. 19.16,17.)·
A posição de Deus é esclerótica: ninguém deve andar com mexericos no meio do povo de Deus.
A definição que encontramos no Dicionário Aurélio de alcovitar é: “Narrar em segredo e astuciosamente, com o fim de malquistar, intrigar ou enredar. Andar com mexericos; fazer intrigas”. E na definição de intriguista, deparamos com o termo “leva-e-trás”, ou seja: alcoviteiro.
A pressuposição mística deste costume não pode ser assente em nenhum outro vocábulo, a não ser: pecado. Mexericar é desrespeitar Deus; portanto, é pecado e ponto final.
Mas o versículo subsequente a esta inibição celestial revela-nos que não peca somente a criatura que forja o enredo, mas igualmente quem dá ouvidos a ele! Note a enunciação: “não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele”. A Bíblia diz-nos que quando alguma pessoa dá ouvidos ao mexeriqueiro, está sendo cúmplice dele. A singular forma de não errar junto com o alcoviteiro é repreendê-lo e denegá-lo.
Em verdade vos digo que sempre que alguma ovelha tresmalhada do nosso rebanho vem ter comigo para falar mal de outro ser, nunca lhe dou ouvidos e quando disponho de oportunidade faço-a falar na frente do tal “fulano/a” para apurar a veracidade do tema. Desgraçadamente, a pluralidade das pessoas não exerce este princípio, mas aqueles que o fazem têm visto que ou ganham o mexeriqueiro, tirando-o do pecado, ou no caso de não o conseguirem, pelo menos não serão mais procurados por essa dita pessoa.
O mexerico é uma linguagem maligna, e infelizmente pode ser encontrada em qualquer povoação.
Os malefícios que ele suscita são incalculáveis. Quanta intriga, divisão, separação, inimizades são, actualmente, geradas pela língua que destila o veneno!
Todo aquele que se auto-proclama de “cristão” tem que estar suficiente perto da Palavra de Deus a fim de abafar estas vozes imperfeitas, desprezíveis e indignas.
Não falo unicamente de derrotar a tentação de alcovitar; falo de nem sequer dar ouvidos a um coscuvilheiro, pois mesmo que o estimado leitor nunca abra a sua boca para parafrasear a vida alheia, ainda pode pecar, bastando para isso ser cúmplice de quem o faz.
Não temos que controlar a vida de ninguém. Se alguém está em omissão, deve-se admoestá-lo, uma vez que isso é um mandamento bíblico, contudo, jamais temos o direito de divulgar a sua fraqueza: “Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.” (Gl. 6.1.)
É hora de acabar com o "diz-que-diz-que". Se o encararmos como ofensa, e descortinarmos o dano que ele tem trazido à nossa comunidade, creio que tiraremos um descomunal peso dos nossos corações e das nossas almas. Caso contrário a nossa consciência continuará cauterizada e seremos, definitivamente, impedidos de crescer.

“Mas Eu vos digo que de toda palavra frívola que os homens proferirem hão de dar conta no Dia do Juízo. Pois pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado.”
(Mateus 12:36,37)

24 March, 2006

Coragem


"Uma ave deve voar, mesmo que o céu esteja cheio de abutres."
(Autor desconhecido)

Génio Incompreendido


"O génio consiste em um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração."
(Thomas A. Edison)

21 March, 2006

Agricultura - Ontem e Hoje


A agricultura é a exploração metódica dos solos para a obtenção de alimentos, roupas e outros produtos úteis ao homem e, normalmente, está associada à criação de gado, principalmente bovino. A palavra agricultura provém do latim “agri” que significa do campo e cultura.
Muitos produtos agrícolas são consumidos directamente, sobretudo nas zonas onde predomina a agricultura de subsistência. Em outros lugares, os produtos agrícolas são utilizados numa ampla gama de indústrias, desde a obtenção de alimentos derivados e fibras têxteis, até às do sector químico e manufactureiro. O café, o leite e o pão, ingeridos diariamente, são alimentos de origem agrícola. Os casacos de lã, os vestidos de algodão e os sapatos de couro, muitas tintas, plásticos e os remédios que as fábricas produzem também são edificados com produtos de origem agrícola.
A agricultura caracteriza-se, essencialmente, por necessitar de grandes espaços e por empregar uma grande porção da população mundial. É a actividade económica mais importante do nosso planeta.
Os principais ramos da agricultura são a produção de cereais, oleaginosas, hortícolas, a criação de animais e o cultivo de árvores de fruto, vinha e oliveiras. Contudo, nem todo o trabalho relacionado com a agricultura é exercido no campo.
Cálculos recentes indicam que 10,5% da superfície terrestre encontra-se cultivada, 22,5% é dedicada a pastagens permanentes e mais de 50% da população mundial depende directamente da agricultura.
Entre 1952 e 1968, a população agrícola aumentou em 50%, mas apesar deste facto verídico, a necessidade de incrementar a produção agrícola a um ritmo que acompanhe o crescimento da população ainda persiste. Esta situação é, extremamente, critica nos países em vias de desenvolvimento.
A aparição da agricultura como meio predominante de vida foi um facto crucial no desenvolvimento cultural da humanidade. O controlo sobre os fornecimentos alimentícios, em conjunto com os métodos para conservar e armazenar os excedentes, permitiu estabelecer populações estáveis e permanentes.
Distinguem-se várias zonas primárias de agricultura, de acordo com as provas biológicas dos antepassados silvestres dos animais que, actualmente, são domesticados, das plantas e pela evidência arqueologia de antigos núcleos agrícolas. Há milhares de anos, os homens pré-históricos recolhiam o se alimento da natureza e vestiam-se com plantas silvestres ou peles de animais.
Quando matavam todos os animais de uma determinada zona, ou quando as plantas morriam, eram obrigados a mudar para outra região. Os homens primitivos passavam a vida à procura de alimento.
Gradualmente, os homens começaram a domesticar ovelhas, cabras e outros animais, representando uma reserva estável de carne e de peles para roupas.
Aproximadamente na mesma época em que aprenderam a domesticar os animais, os homens aprenderam a plantar e cultivar certas plantas, como o trigo, o milho e o arroz. Talvez por acidente, perceberam que as plantas cresciam melhor quando o solo havia sido revolvido. No princípio, utilizavam bastões toscos para revolver os campos. Mais tarde, criaram arados de madeira. O primeiro arado era constituído de um bastão que um homem segurava na posição certa, enquanto outros dois o arrastavam pelo solo. Depois de terem utilizado esta prática de cultivação durante inúmeros anos, decidiram treinar o boi, o cavalo e outros animais para puxar o arado.
À medida que os métodos agrícolas se aperfeiçoavam, diminuía o número de pessoas necessárias para o cultivo da terra ou para a criação de animais. Alguns homens começaram a estabelecer-se em aldeias, porém, os agricultores e os pescadores continuaram a produzir os alimentos para o resto da comunidade.
O Egipto e Roma foram os dois primeiros grandes Estados agrícolas. O rio Nilo, no Egipto, inundava o seu vale uma vez por ano, tornando o solo extremamente fértil para o cultivo do linho, cevada, trigo e vários tipos de frutas e legumes.
Roma desenvolveu-se a partir de um aglomerado de pequenos agricultores e tornou-se uma nação de grandes propriedades agrícolas, chamadas “latifundia”. Os romanos praticavam a irrigação, a rotação de culturas e plantavam leguminosas para enriquecer o solo. Utilizavam amplamente arados de ferro (o arado de ferro surgiu no Oriente por volta do século XI a.C. e o seu uso difundiu-se rapidamente pelo mundo antigo).
Na Idade Média, do século V ao século XV, grande parte da Europa encontrava-se divida em grandes propriedades dominadas por senhores feudais. Os camponeses cultivavam as terras em torno das aldeias, geralmente pelo sistema de dois ou três campos. No sistema de dois campos, os camponeses deixavam um campo em pousio (descanso) e plantavam cereais no outro. No sistema de três campos, deixavam um campo em pousio, plantavam trigo ou centeio no segundo e cevada, veia e leguminosas no terceiro. A rotação das culturas ajudava a proteger o solo.
Sintetizando, devo proferir que, actualmente, o tipo de agricultura mais utilizado na nossa ilha é a Pecuária, provavelmente por ser a mais rentável devido às diferentes ajudas monetárias que são atribuídas às explorações pecuárias (Indemnizações Compensatórias, Retenção de Bovinos Machos, Manutenção à Extensificação, Conservação de Currais e Lajidos, Prémios às Vacas Aleitantes, Gasóleo Agrícola, etc. …). Como é evidente, estes agricultores não tem só direitos, também tem o dever de manter na sua exploração uma produção pecuária extensiva e um encabeçamento entre 0,6 e 1,4 CN/Ha de superfície forrageira, manter o estrato arbóreo e fazer a limpeza de infestantes privilegiando sempre que possível o trabalho manual.

"A maior recompensa do nosso trabalho não é o que nos pagam por ele, mas aquilo em que ele nos transforma."
(John Ruskin)

Sonho ou Pesadelo?

16 March, 2006

E tu, jamais conseguirias o quê…?


Depois que Eva foi formada da costela de Adão, foi literalmente "levada para junto do homem" (Génesis 2:22).
Observar o mundo e perceber as suas regras é deveras interessante.
Diariamente ouvimos falar em casamenteiros. Quem são eles e o que fazem?
São homens e mulheres que arranjam casamentos entre pessoas que mal se conhecem. A figura do intermediário entre as duas partes assume uma importância determinante. Intitula-se de casamenteiro (ou, mais habitualmente, de casamenteira) aquele a quem se recorre para que escolha, investigue, informe e, finalmente, aconselhe e ajude na negociação do casamento.
Em alguns países, os casamenteiros têm uma grandiosa reputação entre a população, mas vou iniciar esta missiva pelo "Santo", como era chamado em Pádua. Santo António é doutor da Igreja e padroeiro de Portugal. Foi um dos missionários itinerantes mais populares do século XIII e a sua reputação chegou ao Brasil aquando da colonização portuguesa, por influência dos frades franciscanos. Santo António foi santificado um ano após sua morte, assente na sua crescente popularidade
Em verdade vos digo que a santidade é o que nos torna semelhantes ao Pai; os primeiros seguidores de Cristo eram conhecidos como santos, mais tarde essa denominação restringiu-se. Qual é o mito do santo mais popular da Igreja Católica em todo o Ocidente? O principal reza que outrora existiu em Pádua um tirano de nome Ezzelino, que decretou que as pessoas deveriam levar um dote idêntico para o casamento. Assim, o rico sempre casaria com o rico e o pobre com o pobre. Casava-se mais com a "carteira" do que com o coração. Os habitantes da cidade revoltaram-se e Santo António defrontou o autocrata em praça pública. E, tal foi a robustez da sua desonra, que Ezzelino foi coagido a revogar o excêntrico édito. Após esse astronómico triunfo sobre o dito tirano, Santo António foi carregado em triunfo e, desde então, é aclamado como o "Santo casamenteiro".
A figura de Santo António é, fundamentalmente, um apelo ao enamoramento das criaturas, à arte do encontro através de um comportamento mais humano e menos egoísta. Esse é o culto que deve ser abnegado ao Santo, esse foi seu modo de viver.
Meus amigos, quais são os casamentos que garantem a expressão "e foram felizes para sempre"?
O casamento exige amor, paixão, amizade, dedicação, imaginação, carácter, dignidade e, sobretudo, fidelidade. Este tipo de relação individualizada tem, igualmente, que ser desempenhada no inconsciente colectivo. O Casamento não é garantia de felicidade, nem sempre corre bem, e acredito que primitivamente se camuflava com mais perfeição todas as imperfeições que dele provinham. Se os homens se encantavam por outras e as mulheres encontravam consolo em braços alheios, a hipocrisia cuidava da união. Não podemos nem devemos culpar o “Cupido” por um mau casamento, e temos que interiorizar na nossa consciência e o nosso coração que o divórcio e que os casos bem-sucedidos de segundas núpcias existem.
Outrora, o matrimónio era visto como uma aliança estratégica entre duas famílias, um consórcio de patrimónios e uma fusão entre parceiros social e culturalmente semelhantes. Durante os séculos XVII e XIX, o amor romântico passou a ser visto como um elemento essencial para o casamento.
Contemporaneamente, a maioria das pessoas contrai matrimónio por amor e não por interesse, contudo isso não significa que o casal esteja isento de problemas conjugais. Todos os temos, todavia, o mais importante é saber ultrapassá-los, nunca desrespeitando a pessoa que escolhemos, estando sempre ao seu lado e sendo-lhe eternamente fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e até que a morte nos separe.
Tenho, obrigatoriamente, de vos confessar que acredito piamente no casamento entre duas pessoas que se amam e que desejam, acima de tudo, partilhar as suas vidas mutuamente, porém, jamais seria capaz de perdoar uma traição. Jamais conseguiria viver um casamento de “fachada”, sem amor e em que a violência física e emocional fosse “o pão-nosso de cada dia”. E tu, jamais conseguirias o quê…?

E que assim seja!

“O casamento é um edifício que deve ser reconstruído todos os dias.”
(André Maurois)

14 March, 2006

Pais e Filhos

A adolescência é uma idade fechada e secreta.
Os jovens tentam adaptar-se e iniciar uma vida adulta independente, querendo enfrentar a sua frágil auto-estima e também a desconfiança dos mais velhos.
Por sua vez, a maioria dos pais espera que os filhos se tornem adultos, mas continuam a tratá-los como crianças. No entanto, os filhos querem ter a sua independência, mas também o apoio dos pais.
A pluralidade dos adolescentes depende economicamente dos pais, mesmo depois de terem atingido a sua independência emocional.
Os adolescentes sentem necessidade de quebrar os laços que têm com a família e necessitam do grupo de amigos.
Muitas das vezes, as pressões familiares, sociais e económicas ou até mesmo a mudança para a puberdade levam o adolescente a fazer parte de um grupo de clãs que, além de muitas outras coisas, reforçam a sua identidade e os levam a cometer atitudes e actos violentos.
O problema da adolescência a nível familiar é, surpreendentemente, o facto de todos os pais ficarem completamente desorientados diante dos novos moldes de comportamento dos seus filhos adolescentes.
Ao longo da infância, os pais preocupam-se em desenvolver nos seus filhos uma série de hábitos. Esta tarefa educativa costuma dar frutos antes dos doze anos. Mas pode, também, acontecer que a partir desta idade as crianças modifiquem; não contem em casa o que fazem fora dela, não voltem às horas do costume, reajam com agressivos modos, a sua maneira de vestir apresenta característica de certos grupos sociais e no seu quarto reina a desarrumação.
Quando estas situações inesperadas acontecem, muitos pais sentem-se entristecidos e desmoralizados: tanto tempo a educar os filhos e eles tornam-se, mais tarde, irresponsáveis.
O método de imputar demasiadas responsabilidades sobre os filhos adolescentes não dá os resultados esperados. Serve, unicamente, para que eles se afastem progressivamente, chegando mesmo a recrear os maus hábitos recentemente adquiridos. Pode chegar um momento no qual os pais pensem que já não se trata de um problema de educação, mas de uma questão de “ordem pública”.
Poderá existir alturas na vida dos pais em que eles tentem a aproximação e o diálogo com os filhos adolescentes para saberem o que estes pensam sobre a vida e, principalmente, sobre o futuro, mas como é normal da idade os jovens remetem-se ao silêncio.
Nestes casos, os pais sentem que falar com uma parede é mais fácil do que falar com os seus próprios filhos, o que se torna deveras desagradável para ambos.

Darlene Lopes Pinheiro
Formanda do Curso Técnico Animador Sócio-cultural / Assistente de Geriatria

13 March, 2006

Nota Informativa

A partir deste dia, 14 de Março de 2006, irei divulgar neste meu Blog, alguns textos de jovens estudantes da Escola Profissional do Pico, oriundos da nossa povoação de São Mateus.
Creio que os jovens de hoje necessitam de alguém que lhes incremente o gosto pela escrita, pela cultura, pela literatura e, sobretudo, pela história do nosso País e da nossa Região.
Em verdade vos digo que as Instituições competentes do nosso Concelho e, quiçá, da nossa Freguesia deveriam provir à cultivação cultural e científica dos nossos adolescentes.
Convém relembrar que os jovens de hoje são o futuro do nosso amanhã.
E, por aquilo que tenho a oportunidade de diariamente analisar, devo dizer-vos que se não começarmos a edificar alguns projectos para rectificar certas lacunas, o futuro que nos avizinha será, seguramente, deveras obscuro e tenebroso.

Tenho dito!

“Se os teus projectos forem para um ano, semeia o grão. Se forem para dez anos, planta uma árvore. Se forem para cem anos, educa o povo.”
(Provérbio chinês)

12 March, 2006

Onde está no nosso João?


D. João II foi majestosamente o Príncipe Perfeito. Reinou de 1482 a 1495, mas já em 1474 liderou o projecto das Descobertas. Foi considerado, unanimemente, um excepcional Rei; perspicaz, destemido, de amplas visões, competente e precursor da modernidade. Neste ponto, aclaro que o seu objectivo seria uma modernidade sacralizada e não uma modernidade dessacralizada como a nossa que deu origem à apologia do Ter sobre o Ser.
Actualmente, considero-o, sem dúvida, uma das figuras políticas do milénio. Foi o Homem-Acção dos Descobrimentos Portugueses.
Em verdade vos digo que D. João II foi um previdente. Como político excepcional nada deixava ao acaso. Sabia que depois dos portugueses contornarem a África surgiriam problemas de navegação do Índico e de todo um mundo desconhecido, fortemente dominado pelos muçulmanos, naturais adversários dos lusitanos. Foi assim que já antes do feito de Bartolomeu Dias, o Rei enviou ao Médio Oriente o Frei António de Lisboa e Pêro de Montarroio. Deveriam ir a Jerusalém e depois contactar com o reino do Prestes João e saber se este desejaria efectuar uma aliança com Portugal. Falharam esta parte da missão, fundamentalmente por não saberem o idioma árabe.
No ano de 1487, meses antes da partida de Bartolomeu Dias, D. João II reiterou e enviou ao Oriente Afonso Paiva e Pêro da Covilhã. Ambos sabiam árabe e foram submetidos a uma meticulosa preparação secreta. Afonso Paiva morreu já na África Oriental, mas Pêro da Covilhã cumpriu escrupulosamente a sua missão. Passou pelo mar Vermelho, pela Índia, Golfo Pérsico e foi até Sofala situada no sul de África, no lado do Índico. Quatro anos depois de partir, encontrou-se no Cairo com o mestre José Sapateiro e o rabi Abraão, dois Judeus que D. João II mandou ao seu encontro. Não se sabe como foi possível este encontro que possibilitou a Pêro da Covilhã enviar informações ao Rei através do mestre José. Depois acompanhou o rabi Abraão até Ormuz que continuou as investigações na Índia e a Pêro da Covilhã foi dada a missão de encontrar-se com o Prestes João, já que Afonso Paiva tinha morrido. Assim o fez, encontrou um reino cristão na África Oriental. O nome do chefe era Eskender e não João, usava o título de negus em vez de rei.
O negus Eskender recebeu-o com a melhor das cortesias e gostou tanto de Pêro da Covilhã que jamais o deixou partir. O corajoso aventureiro português casou-se com uma etíope, da qual teve muitos filhos, e tornou-se governador de um distrito da Etiópia cristã.
Mais tarde convenceu a rainha Helena a enviar uma embaixada ao rei português e contou a sua fascinante vida ao padre Francisco Álvares que lhe dedicou estas palavras: "Todas as coisas que o mandaram, soube. E de tudo deu conta."
Se é evidente que o Infante D. Henrique procurava alcançar a Índia, não obstante, a relutância de muitos historiadores em o aceitar, não existe a menor dúvida que D. João II ambicionou encontrar no extremo sul de África uma passagem para o Índico de forma a atingir a Índia. Comprova-o, de forma irrefutável, a famosa oração de obediência a Inocêncio VIII, pronunciada em Roma, em 11 de Novembro de 1485, por Vasco Fernandes Lucena em nome do rei português. Esta oração foi impressa duas vezes, ainda no século XV.
A imprensa foi introduzida em Portugal no reinado do Príncipe Perfeito. Este era muito culto e interessado pelo renascimento italiano. Correspondia-se com Ângelo Policiano e com vários príncipes italianos como Lorenzo e Piero de Medici. O humanista Cataldo Sículo que cuidou da educação de D. Jorge, filho bastardo de D. João II, teve um importante papel na introdução do humanismo em Portugal.
D. Leonor, esposa de D. João II e Rainha de Portugal desenvolveu uma acção mecenática intensa no campo das artes, do teatro e da tipografia. Notabilizou-se, igualmente, pela sua profunda acção social da qual, o exemplo mais marcante, foi a criação das Misericórdias em 1498, herdeiras, de certa forma, dos hospitais a cuidado das irmandades do Espírito Santo. Alguns chamam-lhe, com justiça, a Grande Dama do Renascimento Português. Na verdade, o Homem-Acção dos Descobrimentos Portugueses deu uma tal consistência ao projecto lusíada das Descobertas, que a sua política de superior inteligência maravilha todos os investigadores que se acercam da sua obra. Com as suas próprias mãos físicas anulou os conspiradores do reino. Montou um serviço de espionagem eficiente, muito útil nas relações com Castela. Sob a sua influência, o comércio marítimo acentuou-se. Cuidou da segurança no além-mar construindo o Castelo de S. Jorge da Mina, povoando as ilhas de S. Tomé e Príncipe e colocando artilharia nos navios. Graças a esta política, pode vencer as incursões dos castelhanos na Guiné e impor o Tratado das Alcáçovas, em 1480.
O seu grande sonho era a implantação de uma monarquia universal apoiada num cristianismo templário, tolerante e espiritual. Tentou-o com o casamento do seu filho, príncipe D. Afonso, que herdaria as coroas de Castela e Portugal. A sua morte abrupta, e um tanto inconcebível, deitou este sonho por terra que, no entanto, revive no mito do quinto império.
O Príncipe Perfeito faleceu aos 40 anos, mas não sem antes deixar ao país um grande testemunho do seu génio político: o Tratado de Tordesilhas.
Após o conhecimento geral da sua morte, a máscula Isabel “A Católica”, Rainha de Espanha proferiu as seguintes palavras: “Morreu o HOMEM”.
Após tantos anos de glória, actualmente Portugal é um dos mais pobres e desgraçados países da Europa e do Mundo. Como é possível que, após termos dividido o mundo com a Espanha (Tratado Tordesilhas), hoje sejamos um país em vias de desenvolvimento? Será que é porque os nossos governantes de hoje não têm a capacidade extraordinária que D. João II tinha? Será que não tem coragem? Será que não tem motivação? Será que não se importam que não tenhamos nada, quando outrora tivemos tudo, ou praticamente tudo?
E que assim seja!

08 March, 2006

Dia Internacional da Mulher


As comemorações do Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de Março, estão aglutinadas às actividades desenvolvidos pelas mulheres que combateram por melhores conjunturas de labuta, por uma vida mais honrada e por uma sociedade mais justa.
Esta contenda foi-se incrementando com avanços e recuos, ao longo da nossa História, pelas senhoras que souberam suportar o machismo e a discriminação, mesmo com a imolação das suas próprias vidas.
As raízes históricas e sociais da tirania feminina perdem-se na escuridão do Tempo.
Com o desenvolvimento da sociedade de classes (escravismo, feudalismo e capitalismo), deu-se início à exploração do homem pelo homem e o trabalho doméstico caiu unicamente sobre a mulher. Após alguns anos, o capitalismo transformou a mulher em operária, mais fácil de ser explorada.
Em verdade vos digo que os direitos femininos foram conquistados graças às contendas das proletárias e à sua consciência de classe.
Nos países capitalistas, esses direitos só foram conseguidos após terem sido avassalados em alguns países da Europa, da União Soviética e de Cuba, onde as senhoras tiveram conquistas históricas, como a fundação de escolas, infantários, direito ao sufrágio, divórcio e aborto infundamentado.
Na segunda metade do século XVIII, as colossais metamorfoses instrutivas e sociais provenientes da Revolução Industrial trouxeram inúmeras mudanças.
Os industriais, para diminuírem as remunerações e dilatarem os proveitos, empenharam-se no trabalho feminino. A mulher operária foi, nesse tempo, coagida a fazer jornadas de trabalho que abeiravam as 17 horas diárias. Além de auferirem vencimentos inferiores ao dos homens, laboravam em circunstância débeis, subjugadas a espancamentos e cominações sexuais.
Na Inglaterra, como modelo do ambiente fabril da época, as operárias da Tecelagem Tydesley trabalhavam 14 horas por dia sob uma temperatura de 29º, num sítio pantanoso, com portas e janelas impenetráveis. Na parede estava cravado um edital que proibia a ida à casa de banho, ingerir água, desfechar as janelas ou acender as luzes.
Como refutação a estas condições desumanas e perversas de trabalho, irromperam na Europa e nos Estados Unidos manifestações operárias objectando estas condições.
No dia 8 de Março de 1857, a luta travada pelas operárias têxteis de Nova Iorque para a diminuição do horário de trabalho e por melhores salários e condições de vida mais justas, transformou-se num marco deveras relevante. Cerca de 129 Tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton pararam o seu trabalho, reclamando o direito à jornada de 10 horas.
A polícia, a mando dos patronos, reprimiu-as impetuosamente, fazendo com que as operárias se refugiassem dentro da fábrica. Os donos desta, conjuntamente com a polícia, trancaram as portas e atearam-lhe fogo. O tabuado repleto de materiais inflamáveis e de imundície que se aglomerava por todos os recantos, sem saídas de incêndio, foi velozmente pasto de um desmedido incêndio que circundou 500 jovens mulheres, a maioria imigrantes judias e italianas.
Quando os bombeiros chegaram já 147 mulheres tinham falecido carbonizadas. No funeral das operárias, a dirigente sindical Rosa Scneiderman organizou um comício com 120.000 trabalhadoras para chorar “o assassínio bárbaro, frio e calculista das 147 trabalhadoras”.
Em 3 de Maio de 1908, em Chicago, comemorou-se o primeiro "Dia da Mulher”, que foi orientado por Lorine Brown. Participaram neste comício mais de 1.500 mulheres que delataram a exploração e a tirania a que eram sujeitadas. Advogaram a paridade dos sexos, a independência das mulheres e o sufrágio feminino. Foi exigida a igualdade económica e política das mulheres.
Em Agosto de 1910, durante a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas efectuada na Dinamarca, a activista pelos direitos femininos e dirigente do Partido Social-democrata Alemão, Clara Zetkin, inculcou o dia 8 de Março como “Dia Internacional da Mulher” , em vassalagem “ao confronto heróico das tecelãs de Nova Iorque que foram vítimas do incêndio de 8 de Março de 1857”.
"A dor alimenta a coragem. Não podes ser corajoso se só te aconteceram coisas maravilhosas."
(Autor desconhecido)

06 March, 2006

Liberdade de Expressão ou Expressão de Liberdade


A liberdade de expressão, em todas as suas formas e manifestações, é um direito fundamental e inalienável, inerente a todas as pessoas. É, além disso, um requisito indispensável para a própria existência das sociedades democráticas.

Todas as pessoas tem o direito a investigar, adquirir e divulgar livremente informações e opiniões em conformidade com o que estipula o artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Todas as pessoas devem ter igualdade de oportunidades para adquirir, investigar e divulgar informação por qualquer meio de comunicação sem discriminação, por nenhum motivo, inclusive os de raça, cor, religião, sexo, idioma, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição económica, nascimento ou qualquer outra condição social.

Todas as pessoas tem o direito a ter acesso às informações sobre si mesma ou seus bens, de forma expedita e não onerosa, contidas em bancos de dados, registros públicos ou privados e, caso seja necessário, actualizá-las, rectificá-las e/ou emendá-las.

O acesso à informação em poder do Estado é um direito fundamental dos indivíduos. Os Estados estão obrigados a garantir o exercício deste direito. Este princípio só admite limitações excepcionais, que devem ser estabelecidas com antecedência pela lei, como em casos em que exista um perigo real e iminente que ameace a segurança nacional em sociedades democráticas.

A censura prévia, interferência ou pressão directa ou indirecta sobre qualquer expressão, opinião ou informação divulgada por qualquer meio de comunicação oral, escrito, artístico, visual ou electrónico deve ser proibida por lei. As restrições na circulação livre de ideias e opiniões, bem como a imposição arbitrária de informações e a criação de obstáculos ao livre fluxo informativo, violam o direito à liberdade de expressão.

Todas as pessoas tem o direito a comunicar as suas opiniões por qualquer meio e forma. A afiliação obrigatória a órgãos de qualquer natureza ou a exigência de títulos para o exercício da actividade jornalística constituem uma restrição ilegítima à liberdade de expressão. A actividade jornalística deve reger-se por condutas éticas, que em nenhum caso pode ser imposta pelo País ou, até mesmo, pelas pessoas.

Todo o comunicador social tem direito a não revelar as suas fontes de informação, anotações, arquivos pessoais e profissionais.

Em verdade vos digo que não me prosterno perante intimações ou admoestações de nenhum tipo e de ninguém. Continuarei escriturando até lacerar a mão, até porque tudo o que alcancei na vida foi à custa de numerosos dias de íngreme labuta e de demasiadas e ilimitadas noites de estudo.

Será que o que escrevo transtorna assim tanto as criaturas? Será que, ainda, vivemos numa ditadura? Será que, ainda, existem pessoas que se julgam acima de todos e de tudo? Será que, ainda, existem pessoas que julgam que a condição social, o dinheiro e o estudo está acima de todos e de tudo?

Queridos leitores, que há individualidades com pensamentos que respondem e correspondem às minhas questões, lá isso há, é um facto, e só o mudaremos se não nos subjugarmos perante eles.

E que assim seja!

02 March, 2006

Homenagem ao meu querido avô João Lopes Sarmento


A vida leva-nos por caminhos tortuosos. Por vezes, passamos por situações em que praticamente perdemos a esperança, tal é a quantidade e o volume dos problemas e infortúnios que nos acontece. Mas o que devemos, acima de tudo, perceber é que as coisas são como devem ser, e por vezes o que para nós é um problema, uma pedra no meio de um demorado e tortuoso caminho ou um detrimento prosaico, no fundo pode ser uma metamorfose, uma ponte para um novo caminho, um aperfeiçoamento carnal e místico. Meditando assim, sei que não me devo angustiar neste ensejo.
Em verdade vos digo que por vezes uma enorme perda se transfigura numa jornada iminente.
O desaparecimento do meu querido avô, uma figura valente, corajosa e lutadora, que marcou a minha vida e, sobretudo, o meu engrandecimento pelo constante saber em como edificar uma família unida, conscienciosa, destemida e evoluída, foi de facto um descomunal golpe que, como sempre, interiorizei, optando por chorá-lo na descampada solidão da minha moradia, longe dos olhares alheios, mas sobre o afectuoso e infatigável ombro do meu mais que tudo.
Que a sua coragem e a sua luta nos sirva de adágio, e que aonde quer que ele se encontre neste momento, que saiba que a luta de uma vida inteira deu frutos, bons e generosos frutos, e aqui está um deles.
Aonde quer que estejas, sinceramente e comoventemente, espero que possas arrecadar toda a felicidade e todo o sentimento de benevolência e gratidão que agora te consagramos, meu querido avô.
Tenho dito!

“Morremos um pouco cada vez que perdemos um ente querido.”
(Publilius Syrius)

01 March, 2006

Humor VI

Carnaval - A Origem


O motivo do Carnaval é enigmático e sobre ele subsistem matizadas versões. Terá aparecido na Europa e se vulgarizado pelo planeta conduzido por gregos e romanos e, posteriormente, pelos colonos portugueses, espanhóis, franceses e holandeses para territórios e continentes onde dissemelhantes plebes o moldaram às suas inerentes culturas sociais e vivências. Não se pode certificar, igualmente, com segurança qual é a origem do vocábulo, mas existem duas versões quanto à sua acepção.
A primeira afiança que a palavra Carnaval vem de carrus navalis, os carros navais com gigantescas pipas de vinho que durante as Bacanais, festins em honra a Baco (Deus dos ciclos vivificantes, do júbilo e do vinho, popular entre os gregos como Dionísio), eram concedidos aos habitantes Romanos.
À segunda versão é adjudicada procedência religiosa, com interpretação antagónica à diversão, ao divertimento e à malícia a que associamos o Carnaval contemporâneo. Segundo este traslado, o termo "Carnaval" teve origem no latim carnevale, designando "suspensão da carne".
O Papa Gregório I, detentor do cognome o Grande, transferiu em 590 d.C. o princípio da Quaresma para a quarta-feira anterior ao sexto domingo que antecede a Páscoa. Ao sétimo domingo, denominado de "quinquagésima", deu o título de dominica ad carne levandas, enunciação que foi gradualmente resumida para carne levandas; carne levale; carne levamen; carneval; carnaval, todas mutáveis de dialectos italianos que designam a acção de livrar, embargar, logo de "retirar a carne" da alimentação do ser humano.
Em verdade vos digo que segundo a religião católica o Carnaval é ostentado como a designação do período anterior à privação de carne por 40 dias.
Os cristãos inauguravam o festejo do Carnaval na quadra de ano novo e festa de Reis, redobrando-a no período que se antepunha ao derradeiro dia em que os cristãos comiam carne antes da Quaresma, que prepara os fiéis para a Páscoa.
Durante a Quaresma havia, também, privação de sexo e entretenimentos como o circo, o teatro ou as festas, alongando o sentido da suspensão da carne aos prazeres considerados carnais. Logo, todos tratavam de usufruir supremamente até ao último dia, que ficou sabido como "terça-feira gorda".
O Carnaval finda com a penitência na Quarta-feira de Cinzas, que dá início à expurgação do corpo e da alma pelo dilatado jejum de quarenta dias, reedificando desse modo a ordem fendida pela libertinagem do festejo.
Após uma fatigante e morosa investigação, conclui com rigor que na verdade as celebrações carnavalescas são mais clássicas do que a religião cristã e avolumam numerosos símbolos e significados ao longo da história dos povos. Há referências a festas análogas praticadas por matizados povos agrários, como entre os egípcios (festa em louvor à deusa Ísis e ao boi Ápis), entre hebreus, entre babilónios (festa das Sáceas, que durava cinco dias nos quais reinavam a licença sexual e a inversão dos papéis entre senhores e servos) e entre os antigos germânicos (festa oferecida à deusa Herta). Durante essas festas, homens e mulheres comemoravam o desfecho do clima nefasto do Inverno – que aniquilava o plantio, repelia a caça e os aprisionava aos abrigos – e o começo do tempo benigno, com a volta da quentura do sol, a vinda da primavera, das flores e da opulência do solo, cantarolando e bailando para expor o seu contentamento e espantar as contraproducentes energias do gélido frio e da cavernosa opacidade que molestavam o plantio.
"A alegria não está nas coisas: está em nós."
(Goethe)