03 November, 2006

E que assim seja!


É vero que nós, criaturas de Deus, nos temos estupidificado.
Tornaram-se cada vez mais insólitos os comportamentos humanos ditados pela compreensão e pela querença; pela parte sentimental – a mais soberba – do nosso ser.
Procuramos atulhar a pança, procuramos o entretenimento, o conforto, o bem-estar, aquilo que é fácil. Não nos importam os sábios, os pensadores, os idealistas, os santos.
Não queremos ouvir falar em galgar montanhas – interiores ou exteriores a nós –, de audácia, de coragem, de angústia, de sofrimento.
Aventuras... só as que não tiverem sequelas, as que não comportarem um verdadeiro risco – o que impede que sejam efectivamente aventuras...
Somos, cada vez mais, um bocado de carne indolente estendida à “sombra da bananeira”.
Olho, na rua, para um bando de pessoas, e cada vez tenho mais a impressão de que somos um povo apático, um povo sem individualidades – um rebanho.
E, no entanto, esse rebanho segue um curso; acata indicações exactas, admitidas por todos. Mesmo as coisas mais disparatas e antagónicas à nossa essência, ao nosso bem, à nossa felicidade, são pacificamente aceites por todos.
E, deste modo, já temos desculpa para tratar as pessoas, principalmente os mais velhos (idosos), como se fossem objectos gastos: deitá-los para o lixo por já não terem utilidade, por serem um estorvo nas nossas vidas, quiçá por já terem ultrapassado o prazo de validade que deveria ser vitalício, todavia, não é.
Pois é caros amigos, já temos desculpa para tratar os idosos como se fossem ratos, como se fossem coisas. Já temos, à priori, a absolvição divina pelo seu despejo na Santa Casa da Misericórdia.
Não o dizemos desta maneira, contudo, é essa a realidade.
Arquitectamos mil razões, planeamos argumentos, pintamos vocábulos envelhecidos com outras cores,..., porém, não há forma de modificar a verdade das coisas. Nem tão-pouco perante nós mesmos, porque sabemos muito bem que não passamos de aldrabões e trafulhas, ainda que usemos palavras aveludadas.
Houve, no entanto, algo de que não nos lembrámos ao longo deste desgovernado caminho: é que ao “coisificarmos” outros seres humanos, nos “coisificamos” a nós próprios. Se virmos os outros como coisas, se deixarmos que essa mentalidade solidifique, nada impedirá que os outros tenham, igualmente, semelhante atitude em relação a nós.
Sendo assim, bem podemos ir para a rua gritar pelos nossos direitos... ninguém, jamais, nos ouvirá!
Se não tivermos utilidade para os outros, quem se preocupará com aquilo que somos ou com aquilo que fazemos?
Basta ouvirmos um noticiário, de um qualquer canal, para tomarmos conhecimento de que há cada vez mais criaturas na rua, em enormes ajuntamentos, a apregoar pelos seus direitos. Mas tenho a convicção de que a singular forma de conseguirmos que nos olhem como pessoas, consiste em olharmos como pessoas aqueles que já começaram a ser tratados como coisas; em ampararmos aqueles que ninguém quer à sua volta.
Em verdade vos digo que essa é a única solução. Respeitar a vida humana, independentemente de como ela se encontra materializada. O tema não concede prerrogativas. Se aceitarmos cotar os mais débeis dos humanos de acordo com normas de proveito e interesse, um dia alguém nos fará o mesmo.

E que assim seja!

8 comments:

Anonymous said...

Respeitem os idosos, que um dia também o serão

Anonymous said...

... NÃO VOU COMENTAR ... VOU REFLECTIR ...

Anonymous said...

-Pegando num pequeno trecho do teu artigo, e reflectindo nele, não sei como há filhos que deitam a cabeça no travesseiro, dormem todas as noites, depois de DESPEJAREM os pais num lar...independentemente dos pais que tenham tido...
-Um dia vão ter que PAGAR por isso...

Anonymous said...

Acredito sinceramente que o que plantarmos é o que mais tarde colheremos...

Anonymous said...

Deixo aqui o exemplo do nosso alto executivo da Junta, Sr. Sapateiro, que quiz despejar a mãe na rua há bem pouco tempo
P´ra ele a mãe deve ser um peso bem grande na sua vida.
Tenho pena de quem chega a velho e não tem quem lhe dê carinho, quem o trate bem. Os meus pais ainda são vivos mas eu tenho tentado fazer sempre tudo o que posso por eles porque sei que eles fizeram e fazem muito por mim, não sei o que vai acontecer daqui p´ra frente, mas só peço a Deus que me faça tê-los por muito tempo e perto de mim

Anonymous said...

Santa Alice fez o que fez, mas vai todos os Domingos comungar, na Graça de Deus.
Que gente sem escrupulos. Deviam era ter vergonha de aparecer na rua, mas pensavam que as pessoas não sabiam, mas sabem de tudo o que se passou

Anonymous said...

Com que então a tratar mal a velhota!?

Anonymous said...

Santa Alice Sapateira, um bom nome de santa, só falta a beatificação