27 February, 2008

Ilha


Em pleno mar espelhado
Embalada por ventos suaves
Uma ilha recorta no espelho salgado
A silhueta do canto de aves,

As nuvens da sua humidade vital,
Que regam os verdes em branco de marfim,
Contemplam-lhe os cabelos sem fim
Ao voar na suave brisa matinal,

Como é perfeita...
Esta paz embrenhada na beleza...
Bebo mais um gole desse sonho lavado em céu azul,
E navego num mar de peixes que eu não sei,
Tamanho paraíso só pode ser no sul
Da alegre alma que não encontrei.

Na Ilha por vezes habitada!

Foto: Helder Gonçalves


"Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam. Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura. Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela. Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz. Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste."




José Saramago, In. OS POEMAS POSSÍVEIS

26 February, 2008

Josh Groban - Canto Alla Vita!

Josh Groban - To Where You Are!

Josh Groban - Don't Give Up, You Are Loved!

Nostalgia


Nesse País de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que plas aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!

Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-se esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!

Ó meu País de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!

Quero voltar! Não sei por onde vim...Ah!
Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!

(Florbela Espanca)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

(Luís de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(Luís de Camões)

15 February, 2008

Escolha Nossa de Cada Dia!


Além das leis sagradas, descobrimos em sã consciência uma situação intitulada de “conflito de interesses”. No universo político, que em nada me apraz falar e que ainda não vislumbrei qualquer tipo de encanto; trata-se de um agregado de condições em que subsiste uma promessa básica de aperfeiçoar a vida do outro, entenda-se do “povo português”; que faz polifonia ao ser inculcado por uma segunda vantagem; o benefício próprio. A reboque testemunhamos, de um modo geral, um choque de decoro na nossa sociedade. É inadmissível o comportamento de alguns membros da classe política portuguesa. Portugal mudou e não devemos, nem podemos, ceder espaços para embustes desta natura. Descrédito dos políticos nacionais será uma sequela, a curto prazo, se perdurar a omissão na investigação das denúncias, que transbordam o plenário de forma assertória a representantes específicos da plebe. A benemerência de um político vive da sua capacidade de ser simples ao abrir, verdadeiramente, a sua vida de homem público, quando esta se entrelaça com a sua vida particular.
Em verdade vos digo que a alguns destes senhores falta modéstia, parecem balbúrdias juvenis sem ritmo nem consonância, marchas confusas de uma dança incerta. As escolhas são nossas, compreendem riscos, perplexidades e a consciência que não somos indubitáveis, nem omnipotentes. Cultura e política implicam saber, sabemos que a educação é a base fundamental da formação social. Estimular é a política do governo, mas repito, uma vez mais, que somos nós quem elegemos e suportamos este. Nem sempre alcançamos os seus propósitos, os seus métodos e as suas expectativas de resultados. Todavia, sabemos que um autêntico líder não se resguarda atrás de outros e nem se esconde atrás de infinitas aglomerações de papéis, tem que ser respeitável, servir de exemplo para o seu povo, ter sapiência e, sobretudo, carácter. Não pode, de forma nenhuma, trair os nossos valores familiares, destituir princípios morais e humanísticos, se vender ou ser cúmplice de usurpadores. Deve estar preparado para o que se espera dele.
Na verdade o que não podemos perder é a capacidade de mantermos a compostura, altivez e confiança. Não sermos demasiadamente tolos, nem demasiadamente inflexíveis. Frente à rotura de um comprometimento recíproco com o cidadão de bem, não existe nada mais digno e respeitável do que pagarmos pelos nossos próprios erros. Se Deus nos ajudar a tanto; porque às vezes admitir que erramos é uma dura tarefa.
Arrematando, peço que Deus dê a sua bênção aos mais nobres políticos, porque tenho a crença que ainda existem alguns por aí.

E que assim seja!

14 February, 2008

Nada vai Mudar o Meu Amor por Ti

Dia dos Namorados

Em verdade vos digo que o Dia dos Namorados deveria ser todos os 365 dias do ano. Para mim a única diferença que este dia tem dos outros é que hoje, e só hoje, para fazer a vontade ao meu marido – sou do Benfica (acima de tudo é preciso viver a vida com humor).
E que assim seja!

12 February, 2008

Inteligência, a quanto Obrigas!

Uma recente pesquisa feita aos estudantes Portugueses registrou um dado cultural excessivamente evidente, mas que ainda não foi analisado com a veemência que o problema impõe. Percebeu-se que os alunos que têm o hábito de estudar são, sistematicamente, hostilizados pelos colegas. Por outras palavras, aqueles que gostam de ler, que prestam a devida atenção nas aulas e que se dedicam ao curso que escolheram são discriminados e ridicularizados pela maioria. Além de enfrentarem os livros, esses alunos têm que pelejar contra uma cultura de atraso para cimentar a sua posição perante a turma.
É claro que a escola é co-responsável por essa quantidade de estudantes que odeiam estudar. Em geral, o sistema educacional não favorece a situação em que os estudantes podem desfrutar da liberdade de decidir, com os professores, os assuntos que querem estudar. Ao contrário do que reza a teoria, os alunos não são convidados para a elaboração dos projectos pedagógicos. Assim, é compreensível o boicote. Mas colocando de lado a discussão pedagógica, há uma questão cultural no centro do problema, que é ainda mais grave: trata-se da "ridicularização da inteligência".
Nas nossas relações de sociabilidade, perdura uma espécie de pacto pela ignorância que afiança a todos os signatários um certo bem-estar espiritual e rasteiro, já que nivela por baixo os níveis de inteligência demandados para a convivência social. Nessa escolha por uma vida regulamentada pela futilidade e estupidez, os inteligentes são vistos como traidores. Tornam-se, logo, ameaças incómodas. Assim, os ignorantes, que não têm aptidão ou dinamismo para incrementar a sua própria capacidade intelectual, passam a abalroar os estudiosos de várias formas. A forma mais identificável – e óbvia – é a tentativa de difamar aquilo que invejam. E como estamos falando de sociabilidade, isso faz-se sobretudo através de sarcasmo, depreciação e ridicularização.
”De tanto estudar, ficou doido!” – eis um dito habitual, emblematicamente depreciativo, neste pacto pela burrice. Na estratégia anímica de desmerecer aquilo que não se tem, o correligionário da estupidez procura, numa bizarra inversão, associar a inteligência à alienação. Apelidam o sábio de retardado! Evidentemente, sabemos que é justamente o contrário: quem estuda fica mais lúcido, articula melhor as ideias e compreende a realidade com mais perspicácia. É sintomático perceber como a chacota do “inteligente maluco” é excessivamente forte na nossa cultura. Só que isso não existe. Ninguém fica doido de tanto estudar! É mais fácil ficar doido de tanto ser burro.
O estudante sabedor é apelidado por esses correligionários da estupidez de “betinho”, “menino da mamã”, “marrão”, estuda dia e noite e não vive a vida. Ignorantes por opção ou essas criaturas, simplesmente, não conseguem atingir que o estudo e a leitura são actividades primorosas. As pessoas inteligentes não sofrem quando estudam, pois o uso do pensamento é uma actividade encantadora. A proeza do conhecimento é um desafio que leva o espírito às alturas e que nos faz caminhar sobre as nuvens.
Em verdade vos digo que não existe nada que nos dê mais satisfação do que ter uma conversa inteligente com alguém, principalmente quando sabemos do que estamos a falar e, assim sendo, podemos também opinar sobre esse determinado assunto.
Mas o mais trágico é quando percebemos que o pacto pela burrice já envolve políticos, jornalistas e até professores – aqueles que supostamente deveriam valorizar o saber. Essas pessoas abominam a inteligência e, sempre que têm oportunidade, proferem piadas de “esgoto” para caracterizar os estudiosos, ao mesmo tempo que elogiam a futilidade e festejam a sua própria ignorância. Precisamos urgentemente de um pacto pela inteligência. Caso contrário, aí sim, ficaremos cada dia mais insensatos.
Finalizando, deixo a esses estudantes (estudantes, mas pouco) que decidiram, por vontade própria, enxovalhar e mal dizer os colegas que vão à escola para apreenderem, e não para passarem o tempo, um ensinamento do conhecido Bill Gates:
“respeite o seu colega "betinho", pois provavelmente ele será o seu chefe num futuro próximo...”

E que assim seja!
(Adaptado de textos encontrados em vários websites)

11 February, 2008

Quem espera, alcança … quando?


Claro que não seguimos à risca todos os ditados, mas quantas vezes ouvimos uma opinião acompanhada de um deles? Perdi a conta.

Não faço a mínima ideia de quantos ditados populares existem na língua portuguesa, quanto mais somando todas as culturas do mundo. O facto é que, mesmo ignorando grande parte dos ditados universais, só pelos portugueses, já podemos ter um bom entendimento dos erros humanos. Claro que não seguimos à risca todos os ditados, mas quantas vezes ouvimos uma opinião acompanhada de um deles? Perdi a conta. E os erros humanos vêm daí: é um ditado refutando o outro. Toda esta introdução para tentar compreender quando, quanto tempo e se, devemos esperar. Por algo, ou por alguém.

Alguém outrora disse que esperar é desistir. Será que quando desistimos, estamos realmente perdendo todas as esperanças? Creio que não. Afinal, não é ela a que morre por último? E já cá faltava um ditado... Quando falo de espera, refiro-me desde os quinze minutos de uma fila até os vinte anos de uma amizade. De repente quinze minutos é pouco tempo e não custa esperar, porém, quando se está quase a “esticar o pernil” com uma dor no dedo mindinho, e a curta demora só existe porque a secretária do consultório está na mexericada, ao telefone ou, simplesmente, se esqueceu de nós, a espera acaba sendo agonizante e longa demais. Tudo pode ser relativo. Como os vinte anos de amizade, que parecem dias, se não fossem as marcas do tempo, …, afinal os meus amigos mudaram tanto, quando e em verdade vos digo que, no fundo, não mudaram nada,..., eu é que não sabia ontem o que sei hoje!

Quem espera sempre alcança, dizem. Alcança resignação, desapontamento e desilusões. Tem quem espere tentando, tem quem confie na mãozinha do destino, sem saber que muitas vezes o tal aludido é maneta, e está com a outra mão ocupada. Espera pela vez, espera pela voz. Alguém que disse que vinha, e estamos até hoje à espera do tal fulano para jantar. No fundo, sabemos que já não vem, mas mesmo assim esperamos. No fundo guardamos a esperança, mesmo quando não nos apetece esperar mais. Esperar quando? E quando não o fazer? Esperar quanto tempo? Existem regras? Bom, se existem, confesso desconhecer, e desconheço também quem conheça.

“Se água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, então quer dizer que se eu tentar de todas as formas (im) possíveis, consigo o que tanto espero? E se não der certo? É culpa do ditado. Então não tento nada, e quem sabe se esperando não acabo alcançando? E se mesmo assim não funcionar? O ditado será, uma vez mais, o culpado?
Pois é, existem alturas que não adianta inventar em quem pôr a culpa, já que a espera por explicações é supérflua, e o que foi feito não tem mais volta. Aí o melhor é esperar, quem sabe se a solução das coisas não vem de joelhos, e acabamos todos por alcançar o esperado, e desistimos de esperar pelo que não está ao nosso alcance.

E que assim seja!