Um conceito delicado, este de machismo usado neste texto.
Machismo é um sentimento que gosto de definir como o de mandar nas emoções da pessoa que se penetra, seja física ou idealmente. Com o corpo ou com as ideias. Sentimento de dominação do espaço social e dos afazeres. Sentimento necessário, como o etnocentrismo, de pensar que os homens são os melhores, os que mais sabem, os que entendem o contexto e o definem.
O Machismo é um conceito aplicável a todas as idades e a todas as relações entre seres humanos. Quando há um que diz e manda e ao outro compete ver, ouvir e calar, no fundo ser mandado.
O machismo que treme, porém, não é o masculino do homem. É o masculino da economia que nos vê agir e nos manda comportar.
Os homens, habituados à forma patriarcal do comportamento social, ficam perdidos. Bem gostam de ser gentis e sedutores, oferecerem flores e carícias, de visitarem, convidarem, apalparem...
A resistência é dura. A sedução é um comportamento distribuído de forma igual entre as criaturas. Num texto como este ou noutros análogos que tenho documentado, até é problemático diferenciar entre homem e mulher. Entre heterossexual, homossexual, bissexual, andrógino e outras nomenclaturas comparáveis.
Durante o ano transacto e este ano, inúmeras nações foram aquelas que homologaram a lei do matrimónio entre figuras do mesmo sexo, lei justa e largamente esperada por tantas e tantas pessoas – o machismo deixou de ser a prerrogativa dum sexo para passar a ser um conceito susceptível de ser sobreposto a todos os que, na afinidade emotiva, capitaneiam sem poderio e com pujança subversora.
Este é o machismo que conduziu muitos homens a perderem as mulheres das suas vidas, particularmente por não terem compreendido que a mulher a quem cognominavam de companheira merecia ter toda a liberdade efectiva, possível e imaginária.
Em verdade vos digo que qualquer mulher deixa de ser companheira quando sente que a sua liberdade está a ser suprimida por alguém que não a entende, que a limita, que a enclaustra e que a abandona desamparadamente em casa.
O machismo está a tremer e a mulher a crescer. Sim senhor, a mulher está a crescer desde o instante que começou a perceber que o lar e os pirralhos não conseguiam ser suportados somente com o trabalho ou contribuição financeira de um dos membros da família: copiosamente o masculino. O masculino mais adulto, o masculino mais velho.
Aristóteles, ilustre filósofo, nascido em 384 a. C., em Estagira, cidade grega da costa de Trácia, próxima de Pela, capital da Macedónia, entendia que todo o ser penetrado não tinha direito a voz, fosse masculino ou feminino.
A mulher, esse ser, destinado à penetração de forma concebida pela fisiologia que nos governa, tem continuado a subsistir relegada ao império doméstico. Quer nos factos, quer no pensamento social. Prova é, não apenas o quotidiano das pessoas no Ocidente, bem como as estatísticas que nos confrontam e nos dizem quantas mulheres ocupam lugares de destaque e de relevo nas mais diversas áreas da nossa sociedade, como por exemplo Presidente República, Primeiro-ministro, Presidente de Bancos, Reitoras da Universidade, Directoras de Hospitais, Presidentes de um Clube de Futebol (inacreditavelmente em São Mateus temos uma, pelo menos por enquanto, embora sejam muitos aqueles que não a querem com esse cargo ou denominação social, fazendo e dizendo de tudo para a deitar abaixo. Sendo mulher e achando que tendo uma mulher a ocupar tão soberbo cargo é uma mais valia para todas nós, hoje aclamo entusiasmadamente e orgulhosamente a nossa Conceição) …
Caríssimos leitores, se voltarmos um pouco atrás na história universal, deparamos com Madame Marie Curie, nome assumido após o casamento por Maria Skłodowska, nascida em Varsóvia a 7 de Novembro de 1867, e falecida em Sallanches a 4 de Julho de 1934, foi uma cientista francesa de origem polaca. Descobriu um importante elemento químico – rádio –, tendo sido laureada com o Prémio Nobel de Física em 1903 pelas suas descobertas no campo da radioactividade (naquela altura era um fenómeno pouco conhecido), vestida de homem para assistir à Universidade e a perder o seu nome pelo casamento. Encontramos também vastíssimas mulheres a lutarem pela igualdade com o homem, a começar pelas que reclamavam o direito ao voto. Mulheres a invocarem a declaração de princípios da Independência dos U.S.A, escrita por Benjamim Franklin em 1775: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais.”
Neste momento e depois de ter passado muitas noites acordada a pesquisar na idealização deste despretensioso texto, creio que finalmente e após tantos anos de luta e após tanto sangue derramado por demasiadas heróicas e valentes mulheres, o sentimento social mudou e nós, adultos de hoje, criados na infância de ontem, não sabemos qual o modelo para nos orientarmos ou para darmos apoio à geração seguinte, essa que nos consulta numa busca determinante de conselho.
E qual é o conselho que podemos dar? Será preciso reler Tomás de Aquino, Adam Smith, Milton Friedman? Autores por tantos ignorados e, no entanto, por muitos praticados.
E que assim seja!