07 November, 2007

A concha


A minha casa é concha. Como os bichos

Segreguei-a de mim com paciência:

Fechada de marés, a sonhos e a lixos,

O horto e os muros só areia e ausência.


Minha casa sou eu e os meus caprichos.

O orgulho carregado de inocência

Se às vezes dá uma varanda, vence-a

O sal que os santos esboroou nos nichos.


E telhadosa de vidro, e escadarias

Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!

Lareira aberta pelo vento, as salas frias.


A minha casa... Mas é outra a história:

Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,

Sentado numa pedra de memória.


(Vitorino Nemésio)

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