12 March, 2006

Onde está no nosso João?


D. João II foi majestosamente o Príncipe Perfeito. Reinou de 1482 a 1495, mas já em 1474 liderou o projecto das Descobertas. Foi considerado, unanimemente, um excepcional Rei; perspicaz, destemido, de amplas visões, competente e precursor da modernidade. Neste ponto, aclaro que o seu objectivo seria uma modernidade sacralizada e não uma modernidade dessacralizada como a nossa que deu origem à apologia do Ter sobre o Ser.
Actualmente, considero-o, sem dúvida, uma das figuras políticas do milénio. Foi o Homem-Acção dos Descobrimentos Portugueses.
Em verdade vos digo que D. João II foi um previdente. Como político excepcional nada deixava ao acaso. Sabia que depois dos portugueses contornarem a África surgiriam problemas de navegação do Índico e de todo um mundo desconhecido, fortemente dominado pelos muçulmanos, naturais adversários dos lusitanos. Foi assim que já antes do feito de Bartolomeu Dias, o Rei enviou ao Médio Oriente o Frei António de Lisboa e Pêro de Montarroio. Deveriam ir a Jerusalém e depois contactar com o reino do Prestes João e saber se este desejaria efectuar uma aliança com Portugal. Falharam esta parte da missão, fundamentalmente por não saberem o idioma árabe.
No ano de 1487, meses antes da partida de Bartolomeu Dias, D. João II reiterou e enviou ao Oriente Afonso Paiva e Pêro da Covilhã. Ambos sabiam árabe e foram submetidos a uma meticulosa preparação secreta. Afonso Paiva morreu já na África Oriental, mas Pêro da Covilhã cumpriu escrupulosamente a sua missão. Passou pelo mar Vermelho, pela Índia, Golfo Pérsico e foi até Sofala situada no sul de África, no lado do Índico. Quatro anos depois de partir, encontrou-se no Cairo com o mestre José Sapateiro e o rabi Abraão, dois Judeus que D. João II mandou ao seu encontro. Não se sabe como foi possível este encontro que possibilitou a Pêro da Covilhã enviar informações ao Rei através do mestre José. Depois acompanhou o rabi Abraão até Ormuz que continuou as investigações na Índia e a Pêro da Covilhã foi dada a missão de encontrar-se com o Prestes João, já que Afonso Paiva tinha morrido. Assim o fez, encontrou um reino cristão na África Oriental. O nome do chefe era Eskender e não João, usava o título de negus em vez de rei.
O negus Eskender recebeu-o com a melhor das cortesias e gostou tanto de Pêro da Covilhã que jamais o deixou partir. O corajoso aventureiro português casou-se com uma etíope, da qual teve muitos filhos, e tornou-se governador de um distrito da Etiópia cristã.
Mais tarde convenceu a rainha Helena a enviar uma embaixada ao rei português e contou a sua fascinante vida ao padre Francisco Álvares que lhe dedicou estas palavras: "Todas as coisas que o mandaram, soube. E de tudo deu conta."
Se é evidente que o Infante D. Henrique procurava alcançar a Índia, não obstante, a relutância de muitos historiadores em o aceitar, não existe a menor dúvida que D. João II ambicionou encontrar no extremo sul de África uma passagem para o Índico de forma a atingir a Índia. Comprova-o, de forma irrefutável, a famosa oração de obediência a Inocêncio VIII, pronunciada em Roma, em 11 de Novembro de 1485, por Vasco Fernandes Lucena em nome do rei português. Esta oração foi impressa duas vezes, ainda no século XV.
A imprensa foi introduzida em Portugal no reinado do Príncipe Perfeito. Este era muito culto e interessado pelo renascimento italiano. Correspondia-se com Ângelo Policiano e com vários príncipes italianos como Lorenzo e Piero de Medici. O humanista Cataldo Sículo que cuidou da educação de D. Jorge, filho bastardo de D. João II, teve um importante papel na introdução do humanismo em Portugal.
D. Leonor, esposa de D. João II e Rainha de Portugal desenvolveu uma acção mecenática intensa no campo das artes, do teatro e da tipografia. Notabilizou-se, igualmente, pela sua profunda acção social da qual, o exemplo mais marcante, foi a criação das Misericórdias em 1498, herdeiras, de certa forma, dos hospitais a cuidado das irmandades do Espírito Santo. Alguns chamam-lhe, com justiça, a Grande Dama do Renascimento Português. Na verdade, o Homem-Acção dos Descobrimentos Portugueses deu uma tal consistência ao projecto lusíada das Descobertas, que a sua política de superior inteligência maravilha todos os investigadores que se acercam da sua obra. Com as suas próprias mãos físicas anulou os conspiradores do reino. Montou um serviço de espionagem eficiente, muito útil nas relações com Castela. Sob a sua influência, o comércio marítimo acentuou-se. Cuidou da segurança no além-mar construindo o Castelo de S. Jorge da Mina, povoando as ilhas de S. Tomé e Príncipe e colocando artilharia nos navios. Graças a esta política, pode vencer as incursões dos castelhanos na Guiné e impor o Tratado das Alcáçovas, em 1480.
O seu grande sonho era a implantação de uma monarquia universal apoiada num cristianismo templário, tolerante e espiritual. Tentou-o com o casamento do seu filho, príncipe D. Afonso, que herdaria as coroas de Castela e Portugal. A sua morte abrupta, e um tanto inconcebível, deitou este sonho por terra que, no entanto, revive no mito do quinto império.
O Príncipe Perfeito faleceu aos 40 anos, mas não sem antes deixar ao país um grande testemunho do seu génio político: o Tratado de Tordesilhas.
Após o conhecimento geral da sua morte, a máscula Isabel “A Católica”, Rainha de Espanha proferiu as seguintes palavras: “Morreu o HOMEM”.
Após tantos anos de glória, actualmente Portugal é um dos mais pobres e desgraçados países da Europa e do Mundo. Como é possível que, após termos dividido o mundo com a Espanha (Tratado Tordesilhas), hoje sejamos um país em vias de desenvolvimento? Será que é porque os nossos governantes de hoje não têm a capacidade extraordinária que D. João II tinha? Será que não tem coragem? Será que não tem motivação? Será que não se importam que não tenhamos nada, quando outrora tivemos tudo, ou praticamente tudo?
E que assim seja!

5 comments:

Anonymous said...

Carissíma Sandra Amaral,
Em primero lugar, parabéns pelo teu blog...
Em relação a este artigo, é preciso ter em atenção que, durante o "projecto" das Descobertas, a nossa aldeia era o mundo e hoje, talvez graças a esse mesmo projecto, o mundo é a nossa aldeia. O portugal de hoje só pode ser entendido à luz da sua actualidade, muito embora decorra de um passado e dos feitos das mulheres e homens, como os do "João". De facto, precisamos não de um João, mas de muitos mais. Contudo, não vale a pena termos esperança, porque isso não vai acontecer: somos um povo que não tem esse tipo de aspiração, talvez porque não pode, mas também porque já tivemos o nosso "lugar no centro do mundo" e não o conseguimos agarrar. É essa a nossa natureza... mas que venha o João.
Que venha mesmo.

JC

Anonymous said...

Agora não há joães, já houve rosas e até ver há manuelas.
"Foram-se as rosas ficaram os espinhos".

Anonymous said...

essa senhora manuela deve ser a pessoa mais importante de são mateus porque o pessoal só fala dela. ou então o pessoal tem muita dor de cotovelo.
força manuela.
sandra és o máximo.

Anonymous said...

é verdade,é só dor de cotovelo.
manuela parabéns pelo vosso excelente trabalho(segundo ouvi dizer ficaram nas ruas da amargura sem um cêntimo),mesmo assim força.
Sandra parabéns pelo blog.

Anonymous said...

NAO SEI PK É KE FALAM TANTO NA MANUELA SE O PRESIDENTE DA JUNTA É O PAULO LUIS E NINGUEM FALA NELE.
FORÇA MANUELA, ÉS A MELHOR.
SANDRA PARABENS PELO BLOG