28 April, 2006

Poema


"A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada".


Sophia de Mello Breyner Andresen

26 April, 2006

Vivemos em Liberdade?



Na alvorada do 25 de Abril de 1974, pelas mãos dos Capitães de Abril, o Movimento das Forças Armadas Portuguesas devolveu a Liberdade à nação Portuguesa e a todo o Povo Português, que até então fora silenciado por uma Ditadura Fascista de 48 anos. Nos seus primórdios chefiada por Salazar e nos seus derradeiros anos por Marcelo Caetano, a Ditadura suportou uma polícia política feroz e desumana com a sigla PIDE (Polícia Internacional e Defesa do Estado), que numa mudança mais agradável nos tempos Marcelista se denominava por (DGS) Direcção Geral de Segurança. Em sequela dessa revolta militar, principiámos a usufruir em Portugal da Liberdade que hoje vivencialmente dispomos. Aos mais novos interessa que saibam que a Liberdade que gozam actualmente, nem sempre foi assim!
Contudo, será que hoje vivemos em liberdade?
Em verdade vos digo que creio piamente que jamais viveremos em liberdade porque existe sempre alguém que tenta suprimir esse belo sentimento do nosso coração.
Será que ainda hoje existem ditadores?
É evidente que sim. Pessoalmente conheço alguns que se julgam camuflados, mas que por vezes dão o ar de sua graça e tentam, a todo o custo, retirar a liberdade e até mesmo a dignidade dos outros, e tudo porque valores ou pessoas mais altas se levantam.
Caríssimos amigos leitores, será que vivemos em democracia ou numa consubstancial ditadura que os nossos antigos militares tentaram abolir com a sua própria vida, mas que pelos vistos foi em vão?
Jamais viveremos em democracia, jamais seremos livres porque vivemos acorrentados a um sistema liderado por pessoas que não usufruem de carácter e, sobretudo, não respeitam os outros seres, talvez porque se julgam superiores, mas que na realidade são inferiores em demasia.
Finalizando devo dizer-vos que todos aqueles que negam liberdade aos outros não a merecem para si mesmos.
E que assim seja!

25 April, 2006

Liberdade

"O destino dos homens é a liberdade."
(Vinicius de Morais)

25 de Abril de 1974

22 April, 2006

O Privilégio de ser Mãe



Ser mãe é amar incondicionalmente e usufruir todos os segundos, minutos, horas e anos de autêntica satisfação.
Ser mãe é orgulho, é perder o sossego para o resto da vida, pois as preocupações, mescladas com o amor, jamais acabarão.
Ser mãe é ter a capacidade de dar, é ter a susceptibilidade e a serenidade para acompanhar o crescimento quotidiano de um novo ser, sabendo que essa nova vida não é nossa, mas do mundo.
Ser mãe não é só ter amor para dar, mas é principalmente saber se dar.
Em verdade vos digo que ter filhos faz com que o nosso coração passe a caminhar fora do nosso peito, estando sempre onde estão aqueles que, embora tão pequenos, são capazes de enormes revoluções.
Com apenas um sorriso, podem mudar o nosso dia.
Com uma palavra, despertam emoções que nunca imaginamos sentir.
Quando estão doentes, fazem com que a nossa vida se transmute, e a nossa cabeça e o nosso coração passam a labutar, unicamente, para alcançar a cura.
Ser mãe é um estado de enamoramento e de enlevo.
O que fiz para merecer tanto?
Até na teimosia há um encanto: tão pequenininhos e já querem ser independentes...
Será que o meu menino não precisa mais de mim?
Porém, um olhar daqueles lindos olhos castanhos tranquiliza o meu coração, e nesse instante compreendo que serei, eternamente, mãe.
"Mãe: a palavra mais bela pronunciada pelo ser humano". (Kahil Gibran)

20 April, 2006

São Mateus está de luto

No dia de ontem a povoação de São Mateus perdeu, num trágico acidente de viação, um dos seus queridos filhos .
Em verdade vos digo que poderia descrever com belas e extraordinárias palavras o bom e carismático Pai da Sónia, da Carla e da Ana Paula, mas creio que há momentos na vida em que nos devemos calar e deixar que o silêncio fale ao nosso coração, pois há sentimentos que a linguagem não expressa e há emoções que as palavras não sabem traduzir.

Dietas

O que os Olhos não vêm...

Santa Paciência!!!

19 April, 2006

Os mais e os menos (+ / -)

Sinal +

+ Aos membros da Assembleia de Freguesia de São Mateus pelo singular trabalho que têm desenvolvido para o embelezamento e aperfeiçoamento turístico do nosso povoamento, todavia, sob as inumeráveis contrariedades, de erudição sabida, com que se têm deparado desde que foram eleitos por sufrágio.

+ Ao Grupo Folclórico e Etnográfico da Casa do Povo de São Mateus “Ilha Morena” que, recentemente, lançou um CD intitulado “Minha Terra”.

+ Ao Boavista de São Mateus pela sua excelente posição no Campeonato, e a todos os seus Jogadores, Equipa Técnica e Dirigentes em reconhecimento de um desempenho extraordinário e das contribuições prestadas à Equipa da nossa povoação.

+ A todos os empresários locais que têm lutado pelo crescimento económico e financeiro da nossa povoação.

Sinal -

- Ao uso, ou melhor, ao desuso do telemóvel em São Mateus, já que sem rede não funcionam.

- Ao caminho que envolve a parte superior do Estádio Bom Jesus. Será que só após um trágico acidente, nesse propício local, é que se aprontará o aludido caminho?

- Aos estreitos caminhos que existem e subsistem em São Mateus. Será que um dia alguém porá em exercício a radiante ideia de colocar nesses ditos caminhos um sinal de sentido único?

- Às muitas lixeiras de céu aberto que, ainda, aparecem na nossa povoação, nos mais pudicos locais. Será necessário realizar palestras, encetadas à nossa ampla população, sobre Educação Ambiental e informar a nossa comunidade que se existem caixotes de lixo, decerto, é para serem usados?

A Bela Freguesia de São Mateus

Uma Aposta no Futuro!!!

São Mateus - O Paraíso na Terra

18 April, 2006

Porto de São Mateus

Discursos

Melhor que a Palavra

" A cada um de nós a verdade aparece como um relâmpago, mas o nosso espírito recai quase imediatamente no seu estado natural de inércia e obscuridade. Sentimo-nos, então, como que abandonados, e o esforço doloroso que fazemos para retomar a luz perdida não nos revela senão a nossa impotência.
Mas se conseguirmos captar esta luz pela escrita, tornamo-nos capazes de a reanimar quando ela parecia extinta. Há momentos privilegiados onde a verdade passa diante de nós e nós rogamos por ela, deixando-a evadir-se logo; a escrita permite-nos fazê-la renascer indefinidamente.
Mas a escrita tem outras vantagens. Como a palavra e melhor que a palavra, a escrita permite que o pensamento, ao exprimir-se, se realize.
A palavra não traduz lembrança, senão uma comunicação momentânea e ocasional com outro. Mas a escrita supõe sempre um longo entretenimento consigo mesmo, que aspira a tornar-se um entretenimento com todos os homens."

Louis Lavette, In. La Consciense de Soi

17 April, 2006

Boletim Informativo N.º 2

"As grandes ideias são aquelas nas quais a única coisa que nos surpreende é que não tivessem ocorrido antes."
(Noel Clarasó, escritor espanhol)

Perdi um Amigo


No dia 13 do sabido mês fez um ano que o meu dilecto amigo desapareceu deste nosso universo.
Nesse trágico dia depreendi que, por vezes, perdemos algumas pessoas que muita falta nos fazem e, sem elas, o mundo que, outrora, afiguramos ser perfeito deixa de ser colorido e passa a ser, somente, pintado a preto e branco.
Perdi um primo.
Perdi um amigo.
Perdi um irmão mais velho.
Alguém com quem eu podia conversar, desabafar, rir e chorar.
Alguém que, apenas olhando dentro dos meus olhos, percebia o que o meu coração estava a conjecturar naquela exacta ocasião.
Estava convicta que o meu “irmão” se encontrava enfermo, contudo, sempre tive a eterna esperança que um anormal e original milagre arrancasse aquela malfadada doença do seu tão jovem corpo.
Passei junto a ele os derradeiros e desgastantes instantes da sua vida, e apercebi-me o quão a sua família e todos os seus amigos mais chegados o veneravam e, acima de tudo, o estimavam.
Tenho saudades do meu menino Jeffrey Macedo, que com escassos 19 anos perdeu a vida, todavia, jamais perdeu a fé e a confiança naqueles que amava e acreditava.
"O que é belo não morre: transforma-se em outra beleza."
(Balley Ardrich)
Lisandra Lopes Pinheiro
(Formanda do Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural)

11 April, 2006

A tentação da Fé

A fé é a firmeza de qualquer criatura no seu destino, é a paixão que a ergue à eterna Divindade, é a convicção de estar a pisar o caminho que vai dar à verdade. A fé cega é como um farol cujo encarnado lampejo não pode atravessar a densa neblina; a fé elucidada é como uma lanterna vertiginosa que abrilhanta com a sua cintilante luz a estrada que devemos percorrer.
Ninguém obtém essa fé celestial sem ter passado pelas amarguras da incerteza e sem ter suportado as angústias que atravancam o caminho dos observadores. Demasiados param em desalentada indecisão e vagueiam imenso tempo entre adversas correntezas.
Felizes de todos aqueles que crêem, sabem, vêem e caminham firmemente.
A fé é penetrante, constante, e ensina-nos a superar e a vencer os maiores e mais árduos obstáculos com que nos deparamos diariamente. Foi neste sentido que, outrora, alguém, cujo nome não me recordo neste momento, disse que “a fé transporta montanhas”, pois como tais, podem ser examinadas as dificuldades que todos os revolucionários descobriram no seu caminho; as paixões, as insipiências, os prejuízos e as conveniências mundanas.
Usualmente, consideramos a fé exclusivamente como crença em genuínos dogmas religiosos, aprovados sem exame, todavia, a autêntica fé está no convencimento que nos encoraja e nos induz para todos os mais eminentes e nobres ideais.
Em verdade vos digo que também existe várias formas de fé; a fé que temos em nós próprios, a fé que temos num acto prosaico, a fé que temos num partido político, a fé que temos na nossa bem amada pátria. Para mim, a fé é uma paixão pelo ideal, é a visão do magnífico abrilhantado, evidentemente, pela mão sagrada, nos alcantis imortalizados, com o desígnio de guiar a Humanidade ao Bem e à Verdade.
Considero cega a fé religiosa que almeja a razão e se subjuga à sensatez dos outros, que adopta um corpo de doutrina verdadeiro ou falso, e a ele se acorrenta radicalmente. Na sua inquietação e nos seus desregramentos, a fé cega apela indubitavelmente à falsidade, à repressão, e transporta inúmeros seres da nossa comunidade, e até mesmo da nossa povoação, ao fanatismo, nem que para isso tenham que se humilhar e tenham que sofrer as consequências nefastas dessa gigantesca humilhação.
Embora acredite, às vezes, na fé divina, encaro a razão como uma virtude superior, que se destina a nos clarificar sobre todas as coisas e que, como todas as outras virtudes, se incrementa e se dilata pelo uso.
Devo, obrigatoriamente, dizer-vos que seria excepcional se pudéssemos carregar dentre de nós a fé e a razão, porque é certo que a união de ambas abre, ao nosso pensamento, um campo mais amplo: harmoniza as nossas capacidades mentais e espirituais e traz-nos a paz interna e eterna.
A fé, quando acompanhada da razão, é a mãe dos nobres sentimentos e dos grandes feitos. Os seres profundamente firmes e convictos são imperturbáveis diante do perigo e das adversidades, mas são, sobretudo, superiores às bajulações, às tentações, às intimações e ao bramir das ilógicas paixões. Porém, para produzirmos esse desfecho jamais podemos esquecer que a fé e a razão carecem de jazer no pedestal rígido que lhe oferta a liberdade de pensamento e, em vez de dogmas e enigmas, era necessário que ela reconhecesse, somente, os princípios decorrentes da observação directa e do estudo das leis naturais, pois assim poderíamos apregoar, aos quatro ventos, que somos, efectivamente, donos e senhores de extraordinário carácter.
E que assim seja!

10 April, 2006

O Mal tem-se, o Bem constrói-se


Quando somos crianças, os nossos pais inculcam nas nossas cabeças o conceito do bem, do mal, da morte, do pecado, do certo e do errado, e algumas outras formas de nos coibir a praticar o mal. O mal é algo relativo e é muito mais relativo porque tem dois sentidos de fundamental importância, isto é, do ponto de vista moral e do ponto de vista ético para com a sociedade. Objectivamente, o homem também obedece ao seu caminho de relativismo que acaba de compreender, entretanto, deve ficar claro que o bem ou o mal que se conhece no nosso planeta Terra foi criado pelo homem através do seu impulso impensado, que trás como insipiência das coisas divinas, mesmo trazendo no seu âmago algumas noções que direccionam ao progresso que, entrementes, alcançou.
Assim, uma sociedade é uma constituição de diferentes famílias que se anexam para conviverem adjacentes, criando hábitos e regras de vivência, entretanto, adquiridas. O grupo familiar mais forte dita os seus princípios. Isto surgiu porque o grupo mais forte se sentiu contundido por alguns grupos pequenos, e já com uma certa consciência do trivial assentamento de todos, criaram as leis, mas em defesa dos interesses dos poderosos, por extensão, dos mais fracos. Deste modo, apareceu a justiça, pois, o que contradizia as leis, criadas pelos mais fortes, era condenado nos seus rigores e, desta forma, o que era mau era tudo aquilo que ia de encontro aos apaniguados do poder, e o que era bom, era o que estava ao seu favor.
No mesmo sentido do bem e do mal, estava também o conceito de morte, de mal-assombrado, de tremor a Deus, de certo e de errado, e muitos outros conceitos que foram estipulados, simplesmente, para defender os direitos de quem estava no poder, e se sentia amedrontado com aqueles que não tinham os idênticos poderes sociais. A vontade de religiosidade, já estava implantada na sensibilidade das muitas pessoas que habitam este globo, devido às muitas consubstanciações pelas quais já passaram, naturalmente essas oscilações se juntavam ao princípio de afinidade com a prolificação da religião e o nascimento da sociedade formal.
Contudo, vive-se no inferno a todo o instante quando se mentaliza somente a maldade, o desamor, a iniquidade, a arrogância, o orgulho, a inveja, a ganância e uma grande sucessão de maledicência que o ser humano constrói dentro de si, nas mais desconformes situações. Quando se emite o mal, geralmente não se sentem os seus efeitos, tendo em vista que foi, ou é apenas uma emissão, mas para quem o recebe, os resultados são graves. O emitente só se sentirá, efectivamente, quando ele próprio for o órgão receptor, e nesse preciso momento ele vai compreender o quanto é nefasto emitir vibrações negativas e deletérias para com os nossos irmãos.
Em verdade vos digo que há uns dias, e após uma breve, mas concisa leitura de um certo comentário degradante sobre a minha pessoa, a minha dor começou a aumentar, o meu sofrimento alongou-se, a minha angústia tomou conta da minha mente, e nesse preciso momento julgo que iniciei a prática do conceito de inferno, e foi o próprio inferno (o mal) que se apresentou para torturar o meu ego.
O comentário daquela dita Senhora, foi, para mim, uma colossal tristeza, porque, acima de tudo, deparei que o amor não lhe tocou o coração, as boas maneiras não lhe sensibilizaram para o retorno ao caminho do bem, e conscientemente, o que lhe resta, é somente continuar, até ninguém sabe quando. Neste período de tempo, ou neste estágio, este ser humano não tem noções do bem, nem tão pouco do mal, onde a sua consciência fala muito alto, e o seu interior se agita em busca de uma paz para consigo própria.
A libertação da maldade, ou seja, o expurgo de todas as maledicências, que existe dentro dessa pessoa, constitui o progresso do seu interior, dando lugar a uma paz verdadeira, que as pessoas desinformadas trocam pela convivência com o dinheiro e com as coisas boas aos olhos dos humanos.
Creio, sinceramente, que todas as criaturas que não carregam consigo o sinal de orgulho, inveja, ganância e vaidade, já podem dizer que tiveram a digníssima oportunidade de entrar no Reino dos Céus, por muitas e muitas vezes, ou que, até mesmo, já lá vive, porque é um espírito sublimado e consegue ser irmão de todos, tanto dos da mesma categoria, como dos pequeninos sobreviventes.
Com isto, devo dizer que o bem e o mal são o estado de consciência do ser humano. São as condições em que vivem todos aqueles que compreendem, ou não, a realidade da matéria e do espírito; no céu, a bondade que está nos corações daqueles que têm sentimentos e, no inferno, estão aqueles que não se livraram da prisão da inferioridade espiritual. Nada é rejeitável, e estes conceitos servem para que, na intransigência da inferioridade humana, se possa conhecer ou temer as leis divinas, pois quando não se quer segui-las por compreensão e firmeza, as leis dos homens devem impor maneiras de reconhecê-las com eficiência. Bom seria que todos entendessem a vida pela volição de caminhar pelo caminho do bem e sempre em busca do amor e da paz, caso contrário, a dor, infelizmente, ensina como nos devemos portar a cada momento.
E que assim seja!
"Nada perturba tanto a vida humana como a ignorância do bem e do mal."
(Cícero)

04 April, 2006

À convencida da Vigia do Canto…


Pelos menos em 10 dias (vezes) encontrei as tuas mensagens, o que muito agradeço. Evitei-as, mas fui obrigada a lê-las.
Possivelmente, no dia-a-dia, sou obrigada a dialogar com esta convencida, penso que sim, porque penso que a conheço. Já não me confranges. Contaste-me vitórias de prontos a vestir, podas de vinha e adubo para as vacas!!!
Talvez queres-me vencer no anonimato, convencida que podes convencer, sim convencer. Pois, vence lá, à vontade, convencida. Sobretudo, vence, mas sem me chatear.
Aturo-te por escrito, mas só isso e nada mais do que isso…
Convencida da vida és, afinal, em toda há parte por onde passas, e utilizando todos os meios. Estás convicta da tua excelência, da excelência das tuas obras e manobras (as obras justificam as manobras).
Além de espectadora “ignorante”, tu, como convencida que és, precisas de irmãos-em-convencimento. Isolada, através de quem poderias continuar a convencer, a propagar-te?
Mas não és uma convencida à toa. És uma vaidosa que quer extrair a sua vaidade, sempre gratuitamente, a pensar em todo o rendimento possível, nem que seja à custa do “bota abaixo os outros”. Eu sei o que fazes ou o que fizeste, sei sim. És capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, julgares que te será mais útil.
Eu sei-te observar, porque te conheço. Para quem tem a pachorra de te seguir a trajectória, vai ver que te fartas de cometer «gaffes». Não importa: o caminho para ti é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da tua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe (ou de ausência dela), e que te inculcam como uma arrivista, uma «parvenu», a pior das «gaffes» é te julgares a mais hábil manobradora do que qualquer outro ou outra.
Daí que não seja tão raro como isso ver-te um dia a fazer plof e descer, liquidada, para as profundas. Se tiveres raça, põe-te, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegada, vejo-te a retomar, metamorfoseada ou não, no teu propósito de te convenceres da vida - da tua, claro - para de novo seres, com toda a plenitude, a convencida que sempre foste.
Estou convencida disso, é o meu único convencimento.
E que assim seja!!!

Adaptado de Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim".
Nota da blogista: Ser mulher é um lugar, ser mulher é ocupar um espaço do qual faz parte o homem; assim sendo, a polivalência numa relação é a chave do futuro, ou seja, o amor, a amizade, a cumplicidade, a felicidade, a fidelidade são sempre em conjunto, não havendo tarefas para homens ou mulheres. Mas a convencida da vida não sabe disso…

03 April, 2006

O imortal fantasma chamado “medo”

A maioria das mulheres da nossa comunidade vive ainda refreada pela sua condição de mulher. Sob uma tristeza eterna ressoam sons nostálgicos e proféticos do fado da sua existência. A nossa sociedade é arbitrária, e até bárbara, para com as mães, filhas, mulheres e amantes. Estigmatizado pelos castradores dogmas moralistas, este ser admirável parece condenado a penitenciar por um pecado protótipo de uma Eva que nunca pecou, enquanto Adão sempre permaneceu impune. A mulher pode ter inúmeras imperfeições, contudo, no que respeita a “pecados” permanece bem aquém do homem.
Apesar do mundo ter evoluído, e muito, nos últimos anos, a mulher continua constrangida a viver uma volúpia abstrusa na desonra do medo e da ignorância de uma sociedade hipócrita e enfraquecia por estereótipos antiquados.
São imensas as mulheres que têm horror e pudor do seu corpo, tratando-o como um empecilho, quando o deveriam tratar como uma obra de arte que a natureza teve a habilidade e a amabilidade de esculpir.
Já alguma vez se questionaram porque motivo algumas mulheres, especialmente após desposarem, se vestem tão desastradamente, tão melancolicamente e sem fineza, como se fossem avós? Será por causa do imortal fantasma chamado “medo” ou será por terem receio daquilo que todos os outros pensam e dizem, ou será ainda por medo delas próprias.
A mulher não é venturosa porque não a deixam ser emancipada. Vive subjugada a prejuízos obstinadamente reincidentes, mesmo na classe mais jovem da população. Se seduz é uma desavergonhada; se ousa é uma descarada; se não é casada ou é um perigo ou é lésbica (expressão, em moda, usada para caracterizar todas as mulheres que, de algum modo, se distinguem em alguma actividade social ou económica); se triunfa na vida é porque teve relações sexuais com alguém importante; se é bonita é tratada como um artefacto de museu; se vai a um bar é assediada com piropos de rapazes imberbes; se vai a uma discoteca é aliciada com propostas obscenas de labregos que exuberam na nossa comunidade.
Em verdade vos digo que a mulher tem um sorriso harmonioso e amoroso, porém, reprimi-o prodigiosamente com o receio que este seja decifrado como símbolo de uma postura imprópria, sendo forçada a sobrecarregar um árduo fardo de incumbências e imposições que lhe martirizam a modesta vida. Enquanto jovem, é a parentela que lhe delimita a diversão. “O namoro deve ser um relacionamento circunspecto”, de preferência já a pensar no matrimónio.
E será o matrimónio a cúpula da autonomia há tanto desejada?
Puro delírio. Velozmente a mulher apercebe-se que a liberdade não passa de uma infrutífera miragem. Depois da aperreação da família passa para alvo de opressão por parte do cônjuge e, mais tarde, dos filhos, dos pais, dos sogros e o que mais houver. Do estatuto delicioso de amante ela passa, rapidamente, àquela que parece ser a sua situação genuína, “mãe” e “dona-de-casa”, mesmo apesar de laborar fora de portas como o homem. Nesta circunstância, ela vê-se remetida para uma subsistência assexuada, longe de ser uma autêntica mulher, já que uma “dona-de-casa” não tem tempo para o romance, pois o seu dia-a-dia é atestado com a polvorosa da casa, das compras e dos descendentes.
A mulher não tem espaço para ser mulher.
Caríssimas e estimadas Senhoras que tempo nos resta para pensarmos em nós, para sentirmos e partilharmos o amor que encerramos no nosso coração?
Por vezes não passamos de um corpo fatigado pelas tarefas domésticas e que carrega um espírito habitado por enigmas e tarefas triviais, sem fantasia e sem alma, mas com muita abnegação e muita benevolência.
As mulheres da nossa povoação e do nosso concelho podem não ser tão graciosas e ostentosas como as outras, todavia, são das mulheres mais compassivas, enamoradas e afectuosas que subsistem no nosso globo terrestre. De outra forma como podiam elas aguentar uma entidade tão cruel?
Na sua simplicidade e ternura, a mulher abriga uma descomunal sapiência que não figura em nenhum livro ou arquivo, mas que se sente no calor da sua presença. De uma forma comedida ela exibe o seu amor por tudo o que lhe é querido, enquanto fica à espera. À espera que um dia lhe deixem ser o que sempre sonhou: Mulher.
E que assim seja!

02 April, 2006

Ilha do Pico


Pode escrever-se um poema com basalto
Com pedra negra e vinha sobre a lava
Com incenso mistérios criptomérias
E um grande Pico dentro da palavra.

Ou talvez com gaivotas e cagarras
Cigarras do silêncio que se trilha
Sílaba a sílaba até ao poema que está escrito
Lá em cima no Pico sobre a ilha.

Manuel Alegre, In. Pico