Uma recente pesquisa feita aos estudantes Portugueses registrou um dado cultural excessivamente evidente, mas que ainda não foi analisado com a veemência que o problema impõe. Percebeu-se que os alunos que têm o hábito de estudar são, sistematicamente, hostilizados pelos colegas. Por outras palavras, aqueles que gostam de ler, que prestam a devida atenção nas aulas e que se dedicam ao curso que escolheram são discriminados e ridicularizados pela maioria. Além de enfrentarem os livros, esses alunos têm que pelejar contra uma cultura de atraso para cimentar a sua posição perante a turma.
É claro que a escola é co-responsável por essa quantidade de estudantes que odeiam estudar. Em geral, o sistema educacional não favorece a situação em que os estudantes podem desfrutar da liberdade de decidir, com os professores, os assuntos que querem estudar. Ao contrário do que reza a teoria, os alunos não são convidados para a elaboração dos projectos pedagógicos. Assim, é compreensível o boicote. Mas colocando de lado a discussão pedagógica, há uma questão cultural no centro do problema, que é ainda mais grave: trata-se da "ridicularização da inteligência".
Nas nossas relações de sociabilidade, perdura uma espécie de pacto pela ignorância que afiança a todos os signatários um certo bem-estar espiritual e rasteiro, já que nivela por baixo os níveis de inteligência demandados para a convivência social. Nessa escolha por uma vida regulamentada pela futilidade e estupidez, os inteligentes são vistos como traidores. Tornam-se, logo, ameaças incómodas. Assim, os ignorantes, que não têm aptidão ou dinamismo para incrementar a sua própria capacidade intelectual, passam a abalroar os estudiosos de várias formas. A forma mais identificável – e óbvia – é a tentativa de difamar aquilo que invejam. E como estamos falando de sociabilidade, isso faz-se sobretudo através de sarcasmo, depreciação e ridicularização.
”De tanto estudar, ficou doido!” – eis um dito habitual, emblematicamente depreciativo, neste pacto pela burrice. Na estratégia anímica de desmerecer aquilo que não se tem, o correligionário da estupidez procura, numa bizarra inversão, associar a inteligência à alienação. Apelidam o sábio de retardado! Evidentemente, sabemos que é justamente o contrário: quem estuda fica mais lúcido, articula melhor as ideias e compreende a realidade com mais perspicácia. É sintomático perceber como a chacota do “inteligente maluco” é excessivamente forte na nossa cultura. Só que isso não existe. Ninguém fica doido de tanto estudar! É mais fácil ficar doido de tanto ser burro.
O estudante sabedor é apelidado por esses correligionários da estupidez de “betinho”, “menino da mamã”, “marrão”, estuda dia e noite e não vive a vida. Ignorantes por opção ou essas criaturas, simplesmente, não conseguem atingir que o estudo e a leitura são actividades primorosas. As pessoas inteligentes não sofrem quando estudam, pois o uso do pensamento é uma actividade encantadora. A proeza do conhecimento é um desafio que leva o espírito às alturas e que nos faz caminhar sobre as nuvens.
Em verdade vos digo que não existe nada que nos dê mais satisfação do que ter uma conversa inteligente com alguém, principalmente quando sabemos do que estamos a falar e, assim sendo, podemos também opinar sobre esse determinado assunto.
Mas o mais trágico é quando percebemos que o pacto pela burrice já envolve políticos, jornalistas e até professores – aqueles que supostamente deveriam valorizar o saber. Essas pessoas abominam a inteligência e, sempre que têm oportunidade, proferem piadas de “esgoto” para caracterizar os estudiosos, ao mesmo tempo que elogiam a futilidade e festejam a sua própria ignorância. Precisamos urgentemente de um pacto pela inteligência. Caso contrário, aí sim, ficaremos cada dia mais insensatos.
Finalizando, deixo a esses estudantes (estudantes, mas pouco) que decidiram, por vontade própria, enxovalhar e mal dizer os colegas que vão à escola para apreenderem, e não para passarem o tempo, um ensinamento do conhecido Bill Gates: “respeite o seu colega "betinho", pois provavelmente ele será o seu chefe num futuro próximo...”
E que assim seja!
Em verdade vos digo que não existe nada que nos dê mais satisfação do que ter uma conversa inteligente com alguém, principalmente quando sabemos do que estamos a falar e, assim sendo, podemos também opinar sobre esse determinado assunto.
Mas o mais trágico é quando percebemos que o pacto pela burrice já envolve políticos, jornalistas e até professores – aqueles que supostamente deveriam valorizar o saber. Essas pessoas abominam a inteligência e, sempre que têm oportunidade, proferem piadas de “esgoto” para caracterizar os estudiosos, ao mesmo tempo que elogiam a futilidade e festejam a sua própria ignorância. Precisamos urgentemente de um pacto pela inteligência. Caso contrário, aí sim, ficaremos cada dia mais insensatos.
Finalizando, deixo a esses estudantes (estudantes, mas pouco) que decidiram, por vontade própria, enxovalhar e mal dizer os colegas que vão à escola para apreenderem, e não para passarem o tempo, um ensinamento do conhecido Bill Gates: “respeite o seu colega "betinho", pois provavelmente ele será o seu chefe num futuro próximo...”
E que assim seja!
(Adaptado de textos encontrados em vários websites)
3 comments:
Um texto muito interessante, cara Sandra. E extremamente pertinente também. Contudo, julgo que maltratar "betinhos" não é um problema apenas de Portugal: verifica-se a nível mundial.
Talvez seja reflexo daquele "instinto" tão humano de desdenhar o que se quer comprar...
Cumprimentos.
Importante escrito, além de ser para muitos nevrálgico, pois preferem viver cómodamente apáticos nos seus sobretudos bem quentes e não esquecendo, da última passerele, isto é que é sinal de cultura e inteligência,
o que se pode parecer cá por fora.
Infelizmente a realidade é outra, desfazada de valores morais e, ou
pelo menos éticos.
E a solução não está só nos programas pedagógicos, tem de vir de um núcleo fundamental da sociedade, hoje e por razões várias muito fragilizado.
ma.rodrigues
Lúcido texto, parabéns.
"Um burro carregado de livros"...e expressões similares, denotam à saciedade que o laxismo impera, a ignorância alastra e a imbecilidade triunfa. A vários níveis.
Basta assistir a um daqueles concursos televisivos ditos de "cultura geral"...para nos apercebermos claramente da indigência cultural de muitos licenciados neste país. E jovens.
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