09 May, 2006

Bater ou não nas crianças

O problema é grave, mas invisível. O hábito de bater nas crianças para “educá-las” faz parte da tradição familiar portuguesa. Vem lá de trás, é uma herança dos nossos antepassados, introduzida pela mão pesada dos jesuítas.
Durante inúmeros anos, foram imensas as criaturas que adoptaram a dor e o sofrimento como principais instrumentos de educação das suas crianças e jovens. Dito assim, hoje, parece exagero, todavia, os nossos filhos têm tudo o que necessitam, o que tem demais em levarem umas palmadas, de vez em quando, idêntico ao que ocorreu com a maioria de nós durante a nossa juventude?
É vero que há algum tempo aquém, as crianças, jovens, mulheres e idosos eram subjugados a castigos impetuosos pelo chefe da família, provedor e soberano absoluto dos seus domínios, incluindo a vida, a liberdade e o decoro das pessoas.
Actualmente, são poucos os que discutem o direito de bater nas crianças, aparentemente legítimo, conferido a pais e responsáveis, tais como os avós, tios, padrastos, madrastas, irmãos, padrinhos, professores e educadores.
O facto é que, presentemente, qualquer adulto incumbido de tomar conta de uma criança ganha automaticamente o apanágio de admoestá-la fisicamente.
Em verdade vos digo que muitos dos nossos antepassados suportaram atrocidades e tiranias durante a sua infância e transmitiram o vírus da violência familiar de geração em geração. Quantas crianças se transformaram em adultos áridos e instáveis, agressores de mulheres, pais e mães impiedosos e intransigentes, maridos criminosos, dementes sexuais e pedófilos? Em todos os casos, adultos desgraçadamente infelizes.
O sistema patriarcal da nossa ilha solidificou o poder pleno do homem e a relação dissemelhante nas relações familiares. Os castigos físicos, constantes e cruéis, aplicados indiscriminadamente em crianças, meninas e mulheres, eram tolerados e tratados como “assunto de família”. E assim permaneceu, mesmo quando a sociedade e a legislação repudiaram, uma a uma, as relações sociais violentas, a dominação de um homem sobre outro e o desrespeito à dignidade.
É deveras surpreendente que os castigos físicos ainda façam parte da vida de tantas crianças — as maiores vítimas estão na faixa etária dos seis anos — apesar dos progressos das ciências que estudam e analisam a conduta e o inconsciente do homem.
É assombroso e lastimável que, em pleno século XXI, a sociedade admita a violência física, desde que sem “exageros”, já que isso significa deixar excessivas crianças à mercê das aspirações, carências e psicopatias dos adultos e das suas paixões, fragilidades e quimeras. Das sovas programadas com determinados objectos, até pontapés, empurrões e socos ocasionais, tudo serve para alguns adultos aliviarem a dor, a revolta e a humilhação que carregam no mais profundo da sua alma.
Este tema — bater ou não nas crianças — é ordinariamente argumentado com decoro e superficialidade, como assunto de pouca ou nenhuma importância no contexto dos problemas relacionados com as crianças, e somente quando mostra a sua face carrasca, apavorante, impensável… é que ganha contornos corpóreos, e nesses casos (alguns recentemente expostos à comunidade pela comunicação social) a violência extrema de alguns pais e mães parece-nos longínqua da palmadinha afectuosa, e têm a mesma origem: a certeza de que a dor física corrige as crianças.
Será que a prerrogativa que têm os pais de dar um bom açoite “quando não obedecem com palavras” é a mesma que levam algumas mães a calcinarem as mãos dos seus filhos, por faltas mais graves: mexer no fogão ou na máquina de lavar roupa, abrir o pacote de bolachas, riscar a parede do quarto com um determinado marcador?
Acredito, sinceramente, que todo e qualquer Ser Humano, deste nosso planeta Terra, tem o singelo direito a viver os sumptuosos anos da sua infância sem dor e sem medo.
Tenho dito!

“A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora”.
Benedetto Croce, in. “La Storia come Pensiero e come Azione"

7 comments:

Anonymous said...

Gostei muito do teu artigo.
Concordo contigo, a violencia devia ser abolida mas ainda hoje á pais e maridos que a praticam.

Anonymous said...

Umas palmadas À moda antiga, conforme a gravidade da ocasião ainda fazem bem. Por exemplo, nesta história da pedofilia que nos tocou a todos, uns bons estalos nas novas e uns maiores ainda nos velhos, na altura certa tinham evitado esta porcaria.

Anonymous said...

o drama... até parece que todos os que levam um tabefe se transformam mais tarde em "dementes sexuais".
há muitos que não os levaram e têm problemas em lidar com autoridade, são egoístas, mimados, etc.
há tolinhos vindos de várias formas de educação.

Anonymous said...

e ja agora,cascalhinhos,as mamãs dessas novas tambem deviam ter levado.nada desta vergonha se tinha passado,não é?

Anonymous said...

Por amor de deus, em que século é que esta gente vive???
Violência não resolve nada,e voltando outravez à pedofilia, estas nem estes devem ser agredidos mas sim castigados, por vezes uma palavra vale mais que uma agrecção facial, ou em qualquer parte do corpo, as mentes limitadas de algumas pessoas é que faz com que esta freguesia não progrida...devemos ser benevolentes quando estas situações acontecem às vítimas,e já agora as mães não são totalmete responsáveis pelos actos dos filhos, outrora a educação que os pais davam era a educação que os filhos empregavam, mas agora digam-me que a educação dada pelos pais são usavéis pelos filhos!!! Meus amigos abram essas mentes e auxiliem de acordo com determinada situação!!!

Anonymous said...

...SEJAMOS REALISTAS E NÃO SANTOS...
-Óbvio que os pais são responsáveis pela educação dos filhos e pelos seus actos enquanto menores,não é???...Ou ficam aguardando, vendo o que sairá dali???...
-Não sou a favor da violência fisica,mas tambem nada a favor da verbal,por isso sejamos razoáveis na educação das crianças.Nem muito ao mar nem muito à terra.
-Não é um ligeiro estalo no rabo que as afecta psicologicamente mas sim certa linguagem menos própria usada por alguns pais para as repreenderem e educarem,isso sim...
-Falando de pedofilia, será que não foi o caso das crianças envolvidas???...
-Será que os adultos envolvidos ao serem procurados por essa crianças não as deviam ter mandado para casa com esse ligeiro estalo???...Não teria dado mais resultado???...Porque denunsia las aos pais, neste caso, obvio que não adiantaria...
-Não teria sido melhor para essas crianças e para S.Mateus???...
-Neste momento,todos nós adultos precisamos de educação, precisamos de aprender a respeitar as ideias e a maneira de cada um estar na vida.Isso sim...Saber mos onde começa e acaba a nossa liberdade.Depois transmitir às crianças.E depois o que aconteceu jámais se repetrá...
......SEJAMOS RAZOÁVEIS......

Anonymous said...

e ainda naõ~acabou volta a tribunal dois dos velhos e a outra rapariga ainda nao~esta tudo terminado