14 July, 2007

Reflexões - "The End"


Em verdade vos digo que não estou preparada para a morte de ninguém. Nem para a dos meus familiares, nem para a dos meus amigos, nem para a minha – que, confesso, me provocaria um enorme transtorno. Até porque já tenho coisas planeadas para Dezembro.

Que tenha dado por isso, nunca morri, e as coisas nas quais tenho falta de experiência sempre me amedrontaram. Todavia, a morte, para mim, não é novidade.
Já passei pela amargosa dor de perda. Perda de pessoas de quem gostava e por quem tinha uma absoluta admiração.
Há bocadinho percebi que um dia, todos nós – seres humanos – vamos morrer. Ninguém fica para semente. Alguns de nós vamos chegar a velhos, meio malucos e a cheirar a chichi. Na melhor das hipóteses. Na pior, morremos já amanhã debaixo de um camião de doze rodados, ou com uma dessas enfermidades esquisitas, sem tratamento, que por aí andam. É a consciência aguda deste nosso vasto leque de opções que, hoje e agora, faz de mim uma humorista – ou uma realista.

Não sei porquê, ou até talvez saiba, mas finjo não saber, hoje deu-me para isto. Até porque a morte pode ser mais humana que a vida. É, pelo menos, mais tranquilizadora, porque a vida é bem mais difícil de compreender. Como e quando é que começou a vida? E antes desse princípio, o que é que havia? E as minhas chaves do carro, onde estão? Questões cuja resposta o ser humano não tem capacidade para compreender. Que abstracção é esse nada que havia antes do início do universo? E as minhas chaves estavam dentro do carro, mas como é que eu tranquei o carro e deixei as chaves lá dentro?

Já a morte, não deixa dúvidas. É um fim. “The end”, como no final dos filmes, quando o pessoal se levanta e sai da sala com aquela sensação de contentamento, de história fechada, de ponto final. Além de que é só nossa. É o acto mais individual da nossa vida. No nascimento, há ali muita gente ao barulho. A mãe e, quando calha, o pai. Mas a morte é pessoal. Sabemos que aquilo é um assunto que a ceifeira tem para resolver só connosco. Estamos completamente sozinhos. O que, no meu caso, será particularmente desagradável: como se não bastasse o resto, e com a sorte que tenho, ainda morro em má companhia.

E que assim seja!

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